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domingo, 19 de abril de 2015

ADERÊNCIA


Por João Oliveira

                No universo profissional é necessário muito zelo no momento de confeccionar o currículo de apresentação. Nem sempre colocar todas as experiências e cursos já feitos é o melhor que se pode fazer. O conceito de “aderência” está sendo cada vez mais valorizado nas instituições. Assim, todo cuidado ainda é pouco quando se trata de falar de si mesmo em busca de uma posição no mercado de trabalho.

                Em primeiro lugar, deve-se ter atenção ao perfil do currículo. Existem algumas diferenças básicas entre o universo acadêmico, por exemplo, e o universo comercial. O famoso currículo de apresentação impresso ainda funciona tão bem quanto os formatos disponíveis na internet.

                Para os profissionais liberais o ideal é manter um Currículo Lattes atualizado mas não dispensar os outros modelos. Mesmo sabendo que o Lattes tem um foco mais acadêmico ele ainda é extremamente valorizado sendo uma referência importante para qualquer pessoa que deseje alcançar um bom nível de credibilidade entre seus clientes e instituições. Com a facilidade do acesso à internet, o lattes e seus concorrentes digitais, se tornaram fonte de pesquisa para todos que buscam novos talentos ou possíveis colaboradores com larga experiência.

                O importante está em manter uma linha coerente e crescente de formação e experiência em sua apresentação que não perturbe o entendimento de sua especialização. Hoje, por exemplo, de nada adianta colocar em seu currículo um curso de datilografia. Nos anos 70 era um excelente referencial, assim como hoje o referencial consiste em ter alguns cursos na área da informática, como dominar editores de textos e planilhas.

                Da mesma maneira, deve-se evitar disponibilizar informações demais que não tenham relação com o seu propósito atual ou atividade em exercício. No entanto, algumas correntes de pensamento afirmam que é salutar manter todas as formações e experiências pois, segundo o antigo modo de se fazer currículos, isso pode enriquecer o perfil do candidato. Não acredite nisso.

                O processo de recrutamento e seleção exige muitas horas de verificação de currículo, quanto mais conciso e limpo ele for mais chances o candidato terá de ser convocado para a próxima fase. Sim, existe lugar para os generalistas e sistêmicos mas, o que se busca hoje é o especialista: uma formação e experiência dentro de uma linha de especialização.  Desta forma, rechear o currículo – de qualquer formato impresso ou on line – com atuações fora do que é solicitado pelo provável futuro empregador é colocar em risco a possibilidade de ser visto como alguém focado no tema.

                Aderência, portanto, é limitar o foco de atenção em determinada área. Sua vasta experiência fora do contexto do perfil solicitado pelo recrutador poderá ser apresentada no momento da entrevista pessoal. Isso não irá ferir o protocolo, pois entra como complemento que coloca o profissional como eclético após sua firme capacidade de atuar na área solicitada ter sido observada.

                Vamos supor que o cargo seja para um profissional psicólogo, de nada adianta citar, no currículo, o período de atividade laboral com vendas, por exemplo. Muitas pessoas passam por várias atividades profissionais antes de conseguir, sua graduação, isto é parte do processo. No entanto, não agrega valor para o psicólogo experiências que fogem completamente do contexto requerido.

                Uma outra observação pertinente é quanto a cursos de aperfeiçoamento não finalizados. Caso o profissional tenha, por um motivo ou outro, abandonado no meio algum curso/treinamento que estivesse fazendo é melhor contar como se nada tivesse feito. Pior ainda, se estes cursos não forem diretamente ligados à área de interesse principal.

                Na hora de escolher a próxima atividade para formação complementar busque sempre estar de acordo com sua linha principal. Além de promover conhecimentos que irão acrescentar aos já adquiridos, demonstra seu aprofundamento e interesse no tema. Não é necessário que toda sua vida seja pautada por este modo de agir, claro que experiências extras só acrescentam ao profissional. O problema é transpor esta historicidade para o momento em que o profissional do recrutamento acessar o seu currículo. Livre de tudo que foge ao encaixe laboral proposto, as chances se tornam mais reais.

                De fato uma revisão periódica nos currículos se faz necessária, mesmo que não exista uma pretensão a concorrer algum cargo.



sexta-feira, 10 de abril de 2015

CONHECIMENTO CERTIFICADO


Por João Oliveira

                A conversa andava solta entre as duas árvores no pátio da universidade:

- Se prepara que o Sol não deve aparecer amanhã e, se aparecer, vai chegar na parte da tarde.

- Do que você está falando criatura de Deus?

- Feriadão! Sol de novo, madrugador, só na segunda feira... e olha que hoje ainda é quinta. Ou seja, teremos três dias de penumbra no mínimo, sem fotossíntese para nós.

- Você está é doida! Isso é impossível.

- Ah é? O que você sabe da vida? Assim como eu, você nunca saiu desse lugar! Eu ouço as pessoas conversando e estou sabendo desse feriado prolongado. Todo mundo vai desaparecer... estão falando direto isso aqui no estacionamento.

- Saiba você que as pessoas se sentam na minha sombra lendo livros e eu aprendo muito com isso. Por exemplo: você sabia que o sol é uma estrela de quinta grandeza?

- Exatamente por isso não vai trabalhar nesse feriado. Onde já se viu uma estrela, um pop star, levantar de madrugada? Mesmo sendo de quinta grandeza como você diz.

- Olha, tenho pena de você. É a Terra que gira em torno do sol, vi isso ontem mesmo num livro de física que estava na mão de um garoto que sentou bem aqui encostado no meu tronco. O Sol nem se mexe no espaço.

- Você pensa que sabe tudo mesmo. Eu também aprendo muitas coisas com as pessoas que se sentam em minha sombra.

- É mesmo? Me diga algo que você aprendeu nos livros?

- Hum... deixa eu lembrar... Ah! Lembrei! Você sabia que existem cinquenta tons de cinza?

                Moral da história: conhecimento deve ser certificado.

                Na Índia uma pessoa que quer aprender sobre filosofia de uma religião deve procurar um guru que tenha linhagem. Como uma árvore genealógica, o pretenso guru deve apresentar todos os mestres que o antecederam no conhecimento: ele aprendeu com fulano, que aprendeu com sicrano, que aprendeu com beltrano, até que essa descrição chegue há milênios de mestres no passado. Só assim a pessoa estará segura de ter um conhecimento certificado de fato por mestres que aprenderam direto com a fonte do saber filosófico original.

                No nosso mundo ocidental moderno temos outras fontes de certificação como graduações, pós-graduações, mestrados, doutorados, pesquisas científicas e até mesmo a prática constante de um saber, mesmo sem as certificações acadêmicas, pode gerar conhecimento válido.

                Sair absorvendo todo e qualquer conhecimento de uma determinada área, pelo simples fato de acumular muito conteúdo, não é garantia de qualidade e, nem mesmo de validade no momento da aplicabilidade. Conhecer bem a fonte, saber de suas qualificações ou, tempo de experiência dedicado ao tema em questão, faz toda diferença caso você tenha a intenção de usar seriamente as informações que lhe chegam.

                Um outro detalhe importante em qualquer conhecimento é a utilidade prática do mesmo. Muitas são as pessoas que abarrotam a mente de leituras excelentes mas nunca colocam as teorias em sua própria vida. A vida é muito curta para nos darmos ao prazer de colher flores sem cheirá-las. Leonardo da Vinci têm uma frase ótima sobre isso:

                “São muitas as pessoas que olham sem ver, ouvem sem escutar, tocam sem sentir, comem sem saborear, se mexem sem estarem conscientes de seus músculos, respiram sem cheirar e falam, falam, sem pensar!”  Leonardo da Vinci (15/04/1452 à 2/05/1519)

                Buscar saber a origem da informação não é falta de respeito com a fonte final. Até porque, se ela for a base de um novo conhecimento, estaremos diante do próprio manancial que o gerou e isso é muito bom, caso seja um saber científico e não uma mera opinião. Mesmo assim, a palavra de quem possui longa prática têm seu valor reconhecido e é respeitada por todos, o que também é positivo.

                Com a rede mundial de informação disponível para todos (excelente isso) é necessária cautela quando se encontra uma informação e, mais ainda ao repassar tal material. Pode ser que estejamos ajudando a propagar inverdades que podem causar dano a outros.

          Se o conhecimento que deseja é para uso próprio, profissional ou não, tenha mais cuidado ainda. Afinal, é o seu nome que estará em jogo quando for replicar esse saber. O segredo é conhecer a base fundamental do conteúdo para se ter a certeza de sua veracidade.

               

                

sábado, 4 de abril de 2015

QUEM É MAIS FELIZ?



Por João Oliveira

            De todas as criaturas desse lugar foi justamente com a águia que a formiga foi se encrencar. A disputa agora estava pairando sobre quem vive no melhor ambiente:

- É claro que sou eu! – Disse a águia – Vivo no céu, entre as nuvens. Consigo ver o mar mesmo estando aqui no deserto.

-  Isso não é nada. Garanto que você nunca bebeu água de uma fonte subterrânea e que, com certeza, depende da luz para se guiar por onde vai. Eu não! Ando tranquilamente na escuridão...

- Anda! Veja bem, você disse: anda! Eu sou capaz de voar e ando também se quiser.

- Anda que nem um boneco de posto... – disse a formiga rindo alto.

- Você está passando dos limites. Vamos fazer uma aposta então para ver quem vive melhor neste mundo?

- No que você está pensando...

- Que tal se nós trocássemos de lugar? Você vai para o topo da montanha e eu fico vivendo aqui nessas pequenas cavernas que você constrói.

- Você não vai caber dentro de nossas comunidades, as paredes são pequenas e você vai derrubar tudo!

- Está com medo formiga? Teme que eu consiga provar para você que o meu modo de vida é melhor?

            Nesse ponto da discussão já havia meia floresta em volta dos dois. A formiga olhou em volta e, temendo ser humilhada em público disse:

- Eu aceito! Que comecem os jogos!

            Assim a águia levou a formiga para o alto da montanha e voltou para começar a catar folhas e se enfiar nos pequenos formigueiros.

            Uma tragédia!

            A formiga era soprada de um lado para o outro mesmo no mais fraco vento da montanha o frio já estava deixando a pobre coitada congelada dos pés à cabeça e, a águia, por outro lado, estava completamente suja de terra, encolhida e com medo da escuridão que reina nos corredores estreitos das colônias de formiga.

            Nem ao menos terminou o dia e a águia já estava de volta ao topo da montanha toda arranhada e cheia de dores pelo corpo. Quando a formiga viu a ave pousando disparou:

- Já desistiu? Logo agora que eu estava me preparando para saltar da montanha para começar a voar.

            Moral da história: cada macaco no seu galho.

            As pessoas são diferentes e encontram formas de viverem felizes como podem. Não devemos nos apiedar dos outros só porque eles não possuem o mesmo perfil de felicidade que nós. Da mesma forma, o perfil de sucesso é muito individual. Nem todos querem ter o mesmo objetivo de vida – ainda bem – e, sim, é possível ser feliz com pouco e, imensamente infeliz com muito. Felicidade e sucesso são conceitos subjetivos; não há parâmetro que possamos utilizar para todos sem distinção.

            Podemos também perceber que algumas pessoas não conseguem encontrar o seu perfil de felicidade e ficam tentando imitar o de outras pessoas. Claro que isso é impossível, pois o que se vê externamente nada têm a ver com o que se sente. Não há como estar na pele do perfil psicológico do outro. Assim, pode-se pensar que a felicidade alheia está nos bens materiais que cada um possui, pois é isso o que conseguimos enxergar. No entanto, o que não vemos, é que o outro pode estar em desarmonia familiar e isso o faz infeliz nesse momento.


            Assim, buscar o seu modelo de felicidade dentro de suas próprias possibilidades é o caminho mais sábio que se pode ter. Ser feliz como puder, ainda hoje se possível.