Por Beatriz Acampora
e João Oliveira
Em
uma colina, onde o verde se encontra com a mais translúcida água nascente havia
uma velha lâmpada mágica esquecida. Seu primeiro dono tinha sido um rei muito
sábio e altruísta e a havia utilizado devidamente em situações muito especiais.
Contudo, após uma batalha no reino, quase tudo foi destruído, o rei foi deposto
e morto e a velha lâmpada ficou entregue aos arranjos da natureza.
O
destino daquela lâmpada mágica estava para ser mudado. Uma mulher lutadora e
bondosa caminhava todos os dias na colina para tentar esquecer a dor de ter
perdido várias pessoas da sua família com uma doença avassaladora. Naqueles
dias, a solitária mulher pedia aos céus que sua melhor amiga não fosse levada
pela mesma moléstia.
Ela
se senta para descansar e vê, ao longe, o sol refletir em algo levemente
dourado. Sua curiosidade a faz pegar o objeto e ficar muito curiosa quanto à
sua utilidade. O brilho real há muito tinha se perdido e o dourado mais parecia
ferrugem. Foi quando a mulher decidiu levar a lâmpada para casa e poli-la.
Talvez servisse como um objeto de decoração.
E
assim o fez: chegando à casa, logo tratou de polir o objeto e quando a lâmpada
estava brilhando de tão dourada, ela a acariciou com suas próprias mãos. Para
sua surpresa, um gênio sai explosivamente de dentro da lâmpada e lhe diz:
“-Olá,
sou o gênio da lâmpada e tu me libertaste! Tem direito a três pedidos, mas
ressalto que nem todos os desejos saem exatamente do jeito que pensamos porque
existem muitos fatores que influenciam o desejo após ele ser realizado e aquilo
que desejamos inicialmente pode não ser exatamente como deve ser de fato.
Portanto, escolha muito bem seus três desejos!”
A
mulher, perplexa, só conseguia pensar em uma coisa: salvar a vida da sua melhor
amiga. E foi logo desejando:
“-Quero
que minha melhor amiga seja curada do mal que sofre e que esta maldita doença
vá embora!”
O
gênio realizou o primeiro desejo e sua amiga ficou curada. A mulher ficou muito
feliz e negociou com o gênio um tempo para fazer os outros dois desejos,
enquanto isso ele seria seu convidado em sua casa. E os dois se tornaram bons
confidentes.
Ao
final de trinta dias sua amiga ficou muito doente novamente e a mulher se
voltou contra o gênio dizendo:
“-Que
tipo de gênio é você? Porque minha amiga ficou doente novamente?”
O
gênio analisou a amiga de sua então confidente e disse:
“-
Essa não é a mesma doença de antes, é de outro tipo, uma moléstia diferente e ainda
pior do que a outra, muito mais mortal.”
A
mulher simplesmente respondeu:
“-
Então vamos rápido ao segundo pedido: quero que minha melhor amiga seja curada
do mal que sofre e que esta maldita doença vá embora!”
O
gênio, constrangido, tentou explicar que talvez isso não funcionasse da maneira
como ela pensava, mas, sem ser ouvido, realizou o segundo desejo. Ele não
estava certo do que aconteceria, na verdade ele não tinha um bom pressentimento,
pois sabia, mais do que ninguém, depois de tantos milênios de vida, que as
pessoas faziam escolhas, assumiam compromissos, acolhiam problemas e criavam suas
próprias doenças.
A
mulher já estava muito desconfiada do poder do gênio, embora dentro dela ainda
havia a credulidade necessária para fazer um terceiro desejo. Principalmente
depois que sua amiga melhorou e elas começaram a passear e a se divertir.
Todavia,
após novos 30 dias, infelizmente, sua amiga caiu muito doente mais uma vez.
Agora ela estava ainda pior do que as outras vezes e não conseguia, nem mesmo,
se levantar da cama ou andar e, como último pedido em vida, apenas chamou sua
amiga para se despedir, dizendo:
“-
Não gaste mais seus desejos comigo! Você tem apenas mais um desejo! Peça algo
para você, seja feliz! Eu não quero mais viver, não vejo sentido na vida e você
deve me deixar ir!”
A
mulher ficou perplexa com o pedido de sua amiga e, ao ouvir isto, correu para
sua casa e tomou uma decisão passional: chamou o gênio e fez seu último desejo:
“-Agora vou
fazer meu último desejo, faça o favor de trabalhar direito! Meu desejo é: quero
que minha amiga seja curada de todo o mal que lhe aflige e que nada mais a
possa incomodar!”
O gênio não
titubeou e realizou o último desejo no mesmo instante. A mulher ficou atônita
com o que aconteceu: no dia seguinte chegou à notícia que sua melhor amiga havia
morrido durante a noite. Ela estava furiosa com o gênio e foi tomar
satisfações.
“-Por que
minha amiga morreu? Que tipo de gênio você é? Você é do mal? Nenhum dos meus
desejos foi realizado! Quero o direito a mais três desejos!
O gênio apenas
lhe disse:
“-Tentei lhe
avisar, mas você não estava pronta para escutar! Nossos desejos, por melhores
que sejam não podem modificar a estrutura de vida das outras pessoas quando o a
vontade delas já está consolidada. Muitas vezes os nossos anseios não andam na
mesma direção que os desejos das pessoas que amamos e ao impormos nossa vontade
ao outro pode haver um choque, pois o outro já fez sua escolha! Sua amiga não
queria mais viver e gostava de estar doente, para ela a cura era não estar mais
aqui. Mas, para você a cura significava ela estar ao seu lado, saudável e isso
não era mais uma possibilidade para ela. Da próxima vez que for tentar ajudar
alguém, apenas ofereça seu apoio e deixe que a pessoa lhe diga como quer ser
ajudada.”
Dito isso, o
gênio foi embora e a lâmpada simplesmente brilhou intensamente, transbordando
uma energia de paz que inundou o coração daquela pobre mulher.