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terça-feira, 29 de maio de 2012

Sorte, ou azar?


SORTE, OU AZAR?


                Pessoas passam pela vida argumentando que são infelizes por não terem tido oportunidades ou por serem desprovidas de sorte. O que há de verdade nisto? Seria mesmo possível existir tais diferenças entre os seres humanos?

                Uma vez o exército de  Gengis Khan passava por uma fazenda ao norte da Mongólia, era o ano de 1180,  ele estava reunindo os clãs para mais uma luta contra os tártaros.  Um dos seus arqueiros montava uma égua que, prenha, tinha dado a luz a um potrinho. Gengis Khan não queria saber de distrações em sua tropa e ordenou que o pequeno animal fosse sacrificado. Ao invés de fazer isto, o arqueiro deu o potrinho para um menino, filho do dono da fazenda onde estavam alojados. A tropa seguiu viagem.

- “Menino de sorte este seu filho hein? Ganhou um potrinho de uma égua do exército de nosso Khan!” – disse o vizinho ao pai do menino.

- “Sorte ou azar, só o futuro dirá.” – respondeu o velho homem ajudando o menino a alimentar o fraco animal.
                O potrinho cresceu e, certa vez, a porteira da fazenda foi esquecida aberta durante a noite,  o jovem cavalo, cheio de energia e vontade de correr pelo mundo, fugiu.

- “Menino de azar esse filho seu, ganhou o potrinho, cuidou tão bem dele e, agora, o bicho foge!” – Disse o vizinho.

-”Sorte ou azar, só o futuro dirá.” – responde o idoso fazendeiro consolando o filho que chorava pela perda do animal.
                Passadas três semanas, eis que surge o cavalo correndo pelos campos e arrastando consigo vários cavalos da mesma raça que viviam nas frias espetes na forma selvagem. Toda a tropa entra na fazenda, seguindo o líder, foram direto para o cercado se alimentar.

- “Que menino de sorte este teu filho: ganhou um potrinho, o bicho cresce e foge e agora volta, trazendo mais oito cavalos! Isso é que é sorte!” 

-  “ Sorte ou azar – repetiu o velho – só o futuro dirá!”

                Um mês depois o menino estava adestrando os cavalos selvagens, montado em um deles o animal se assusta e tomba o rapaz quebrando seu braço. Uma época onde os tratamentos eram difíceis o menino acaba se curando, mas fica com o braço direito torto.

-  “Menino azarado este teu filho: ganhou o potrinho, que se torna uma cavalo e foge, retorna com vários outros e agora um deles deixa seu filho meio aleijado! Que azar não é?”

- “Meu querido vizinho, sorte ou azar, só o futuro dirá.” – disse o velho com o olhar triste sabendo que o filho não teria mais os movimentos perfeitos naquele braço.

                Os soldados de Gengis Khan voltaram. Desesperados ele precisavam de jovens para ser treinados como arqueiros. A batalha estava quase perdida e eles não tinham tempo a perder. Entravam nas casas e sequestravam os rapazes que tinham a idade certa para segurar o pesado arco. O filho do fazendeiro que vivia falando sobre a sorte do vizinho foi levado, mas o garoto que, após a queda,  tinha ficado com o braço torto, foi poupado, de nada ele serviria ao exército guerreiro, afinal jamais poderia manejar bem um arco e flecha. 

                Nas batalhas, o filho do fazendeiro vizinho morreu.

- “Azar mesmo – disse ele – teve foi o meu filho.”

                Não existe como avaliar uma situação no momento em que ela ocorre. Existem eventos ruins, em nossas vidas, que podem assinalar mudanças de planos, alteração de rota e que, no futuro, podem se tornar coisas realmente boas. Caso fiquemos ocupando o raciocínio tentando elucidar os fatos em dualidades – boa ou má – ou ainda se focarmos somente no passado que consideramos ruim, deixamos de observar o dia e planejar o futuro.

                 Existe a tragédia. Sim existem fatos que nos causam imensa dor. No entanto, se permanece a vida em nós, também existe a chance de mudar o porvir. Cuidar para que, os próximos passos, sejam produtivos e melhores do que os dias em que a tragédia nos colocou de joelhos.

                Viver não é somente contabilizar momentos agradáveis. A vida é feita de tudo o que há nela e não podemos apenas escolher. É necessário construir.
               

quarta-feira, 23 de maio de 2012

SIRI NA LATA



“Pode uma formiga, atrapalhar o voo de um avião? Pode! Basta o piloto deixar de no céu prestar atenção, para focar neste inseto, pequeno, longe, lá embaixo no chão.”

                A grande maioria das pessoas cria seus próprios limites por não acreditarem nas suas potencialidades. Estes seriam escudos de força, correntes invisíveis ou muralhas psicológicas que funcionam como elementos impeditivos de uma jornada produtiva na busca dos objetivos planejados, isto é, quando a mente permite que se elabore um projeto de vida.

                Como se dá o processo de acomodação consigo mesmo? Alguns pontos devem ser elencados para trabalharmos esta ideia. Não são os únicos nem definitivos, mas já ajudam a delinear o problema.

1)      Ambiente reduzido – Aqui fica clara a imagem do “Siri na Lata”. Estando a pessoa limitada fisicamente, espaço real, para expandir suas produções ela direciona sua atenção para as pessoas mais próximas e começa a desenvolver uma angústia interna, por falta de realizações. Isto pode mobilizar seus atos: para frente - sai em busca de espaço - ou aterra de vez suas capacidades.

2)      Barreiras psicológicas – Caso a autoestima não seja desenvolvida nos primeiros momentos de autonomia o sujeito pode criar a idéia – isso é mais comum do que gostaríamos de acreditar ser possível – que o sofrimento é parte de um processo de culpa ou merecimento. Ele não se projeta no futuro vencedor, pois, não é capaz de crer ser merecedor de prêmio algum.

3)      Foco Dissimulador – Quando não existe espaço físico e as barreiras psicológicas estão claras para a estrutura do sujeito, ele se volta para assuntos e temas menores para ocupar seu tempo em resolução de coisas insignificantes no projeto maior. Agora a figura da formiga atrapalhando o piloto no avião está clara?

                O quanto de tempo e energia dispensamos aos problemas dos outros – mesmo tentado ajudar é bom deixar claro isso – é, de fato, uma fuga dos nossos próprios dilemas. Naturalmente, devemos conhecer alguma pessoa, ou pode ser você mesmo, que acredita ter a obrigação de ajudar todos que apresentam algum tipo de sofrimento. Prontamente, como uma boa pessoa, o sujeito “deixa os próprios problemas” e se ocupa do que está afligindo o próximo.

                Isto não é ser bom.  

                Podemos analisar este ato como uma forma de fuga da própria vida:  – “Já que a minha vida não tem jeito mesmo, deixa eu me ocupar com a dos outros.”

                Este não é o pior dos Modus Operandi desta situação. Existe coisa ainda pior!

                Conhece o colecionador? O torcedor fanático? O fofoqueiro de plantão? Aquele perfil de sujeito que vive uma novela ou filme como extensão da vida? Ou o fã apaixonado que segue seu ídolo com fotos, discos , shows e sei lá mais o quê? E o que dizer de quem passa horas na frente de um computador em redes sociais?

                Pare e pense: não estão também deixando o próprio projeto e investido recursos em algo diferente que a elaboração do “Eu” próprio?

                Claro. Naturalmente, em sua própria defesa, caso tenha se encontrado em algum ponto deste texto, você deve estar pensando que estou vendo imensas âncoras de chumbo sobre guardanapos de papel.

                Quando trabalhava em rádio, no inicio da década de 80, ouvi uma fala interessante de um grande político sobre a programação das emissoras FM da época: “- Toca tanta música boa nas rádios que não dá, nem tempo, desta juventude pensar em se revoltar com alguma coisa!”

                Um bom truque para produção tornar sua mente afiada e focada no seu próprio projeto é criar rotinas de construção para todos os dias. Escrever, para mim, é uma delas. Mas é possível utilizar outras como: ler, cultivar plantas, criar animais, se voluntariar em projetos sociais, praticar esportes...

                Quando a mente vê algo ser realizado, mesmo que pequenas tarefas, o nosso cérebro fica mais confiante que somos capazes de finalizar nossos objetivos. Neste ponto a Ludoterapia trabalha muito bem os jogos de perder e ganhar com crianças onde elas começam a entender o funcionamento da vida aceitado as vitórias com satisfação e as derrotas como possibilidade de desenvolver novas estratégias no jogo.

                Em verdade, sou obrigado a confessar, não há um livro de leis dizendo exatamente o que é certo fazer para conseguir um melhor projeto de vida. Cada ser humano é único com suas próprias facilidades e limitações, no entanto, existem observações, comprovadas, da maneira errada de se viver.

                Antes de focar fora, tente encontrar dentro.


João Oliveira
Psicólogo  CRP 05/ 32031
Mestre em Cognição e Linguagem

terça-feira, 22 de maio de 2012

João Oliveira no Jornal: FOLHA DIRIGIDA 22/05/2012


Programa Painel da Manhã Rádio Roquete Pinto

Ouça agora o programa  que foi ao ar hoje de manhã na Rádio Roquete Pinto com o tema: Sonhos

NA FOTO: Fabiano Albergaria - Apresentação; Maria Cristina Urrutigaray - Psicóloga, Arteterapeuta e coordenadora do curso de psicologia da Universidade Estácio de Sá; Alice Silveira - Produção; José Roberto Bastos - Psicólogo e Psicanalista, Professor Universitário; João Oliveira - Psicólogo, Mestre em Cognição e Linguagem Professor de Psicologia Analítica Jungiana e Beatriz Acampora - Psicóloga, Mestre em Cognição e Linguagem, Professora da Universidade Estácio de Sá.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

EU OUÇO PESSOAS MORTAS




“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.” Platão (428 - 347 a. C.)

                Existem no mundo duas formas de adquirir conhecimento, a primeira é pela nossa própria experiência aprendendo com erros e acertos. A segunda é observando a vivência dos outros, aprendendo com os erros já cometidos por eles, no passado, e aprimorando aqueles feitos que obtiveram êxito.

                Esta fórmula é simples se não fosse por um pequeno problema, nossa vida é muito curta para podermos ter todas as experiências possíveis de aprimoramento e, a maioria das pessoas, não chega a tomar conhecimento que, quase tudo, já foi feito antes em outras eras.

                Não existe uma história nova. Estamos sempre repetindo os mesmos erros por não termos tido o cuidado de olhar para trás, em nossa própria vida, ou em ouvir as vozes do passado distante, escutando os mortos.

                Acreditem! Sou capaz de ouvir, atentamente, pessoas mortas. Sem a necessidade de um guia espiritual ou coisa parecida, apenas, tendo entre as mãos, um livro. Essa coisa mágica transporta vozes e saberes de seres distantes no tempo e no espaço. Personalidades que já deixaram este plano há tanto tempo, que nem pó restou dos seus corpos. Essas pessoas falam com todos que investem tempo em seus escritos.

“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.” Buda (563 -  483 a.C.)

                Ler é como se alimentar. Ao tomarmos conhecimento das palavras ingerimos conhecimento e, de uma forma estranha, isto passa a fazer parte de nós, de nossa estrutura de ser. Lembro-me, como se fosse ontem, que a Rede Globo exibiu em abril de 1982 a série Cosmos do Carl Sagan , em um dos episódios  ele falava exatamente sobre isto ( veja: http://youtu.be/RxtAnv-6EDY  ) da mágica que tem em um livro. Alguém, que já morreu, falando diretamente com você, dentro da sua mente!

                Vivemos pouco, lemos quase nada e, por isso, aprendemos menos ainda a cada nova geração. Perdemos tempo com coisas que não somam nada para o nosso crescimento. Pense: caso pudéssemos ler um livro por semana e vivêssemos por 100 anos, lendo sempre um livro a cada sete dias e, tendo recebido das mãos da enfermeira, imediatamente ao deixar o útero , um livro para ler e, ainda, no momento da última expiração outro livro diferente tombasse ao chão, teríamos lido 5.200 livros por toda nossa existência.  A segunda maior Biblioteca do mundo esta na China e têm 27 milhões de livros. Uma pena, pois nenhum deles vou ler, afinal ainda não sei mandarim. Mesmo se soubesse levaria algo em torno de 520 mil anos para ler todos eles, isso, se eu fosse capaz de ler um livro por semana:  5.200 vidas de cem anos em sequência.

                Qual o segredo?  Escolha muito bem sua próxima leitura, você não tem tanto tempo assim. Não perca tempo com bobagens usando a desculpa que está se divertindo ou passando o tempo. Vou te contar um segredo: o tempo passa do mesmo jeito, independente do que você estiver fazendo. 

                Agora, com sua licença, existe uma voz do passado me chamando na estante.

“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.” Friedrich Nietzsche (1844-1900)

João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031
Mestre em Cognição e Linguagem, UENF-RJ

terça-feira, 8 de maio de 2012

Envelhecer é normal




                Muitas pessoas lutam desesperadamente contra o tempo fazendo de tudo e, com todos os recursos que possuem, para se manter com uma aparência jovem. Pode ser uma tentativa de fugir da morte ou criar a ilusão de juventude, o motivo, com certeza, deve ser o mesmo que tira o sono por madrugadas inteiras, afinal, não há como se esconder do natural.
                Quando a vida não é retirada, de forma abrupta em uma curva ou outras formas de tragédias que destroem futuros, o correto é crescer, envelhecer, adoecer e morrer. Não existe uma forma Benjamin Button de existir. Com sorte (por favor repita a palavra SORTE com força) vamos trilhar este caminho , que é longo para o observador  e curtíssimo para quem nele está.
                As marcas em nosso rosto são emoções vividas. Nossa história emocional pode ser lida nestas linhas curvas que apresentamos na face. Boas ou más são nossas, e foram sulcadas com sorrisos e lágrimas. Retirar com plástico as rugas é igual a uma tentativa de apagar trechos da vida ou cortar vento com foice. Não há volta, mas podemos construir diferente.
                Como saber quem fui se, de mim, tirarem as memórias! As marcas de expressão são os caminhos que trilhamos para podermos, ou não, retornar. Sem vê-los , as cegas, é mais provável ficar andando em círculos. O tempo teima em passar e, menos tempo, deixar! Assim, dentro desta certeza, devemos planejar o próximo minuto de  forma mais salutar. Olhar no espelho, vendo quem somos,  podendo recordar quem éramos, e focando em  quem gostaríamos de ser: nosso crescimento pessoal!
                Nossa cultura, infernal, diz que tem alto valor o mais novo, mais belo e forte.  Nossa cultura fala de caixas! Mas o que têm dentro destas caixas? Uma caixa grande, enfeitada e bonita pode estar vazia. Uma caixa diminuta, feia e velha pode possuir, em seu interior, um pequeno, porém valioso, diamante. Os outros, à nossa volta,  são transformados pela mídia em objetos de desejo como se os homens e mulheres tivessem a  obrigação de possuir ou serem possuídos por todo e qualquer ser humano obtendo prazer com isso.
                Onde podemos achar o valor de alguém ou em nós mesmo se sempre olhamos para o lugar errado do jeito equivocado. Nas culturas orientais o velho é querido em casa, pois é o recipiente de experiências vividas que podem ser compartilhadas. A história de vida de alguém, que errou e acertou, me poupa de cometer os mesmos erros. Para isso servem os livros! Mas isso é outra coisa desvalorizada em nossa cultura.
                Enquanto livros e velhos são deixados de lado e pessoas colocam silicone na face, como um antídoto contra o tempo, a razão dispersa no ar, feito névoa fria na manhã.
                Retornar no tempo: quem nisto crê como verdade, só pode estar beirando a insanidade. Juventude é estado de espírito. O corpo ajuda, claro, mas é a mente, desde do principio, que vai falar no final.