O OLHO DO FURACÃO
Por João Oliveira
O momento atual no ambiente corporativo nos apresenta muitos desafios que vão além de qualquer preparo técnico desenvolvido nos últimos anos
Provavelmente, os gestores e seus líderes de equipe podem estar diante de situações jamais previstas na economia de mercado que surge como subproduto do momento político nacional. A impossibilidade de prever as rápidas mudanças causa turbulências que resultam em perdas substanciais muitas vezes impossíveis de serem recuperadas.
Como fazer previsões, dentro de uma realidade como essa? É impraticável. Em um primeiro momento, talvez a avaliação que se faça é que a melhor forma de minimizar as possíveis perdas é uma política interna de recessão, que também pode ter impactos negativos de forma direta e acabar prejudicando essa mesma estrutura interna e refletindo, negativamente, na produtividade e/ou serviços. Caso não existam intervenções assertivas o momento pode destruir toda história de conquistas na construção do estado de ânimo do corpo laboral. Um forte aparato de ferramentas deve ser colocado em serviço pelo departamento de RH.
Procurar manter elevado autoconceito realmente envolve um grande esforço dos gestores e líderes, mas, é o investimento que pode manter uma força coesa em prol da manutenção de um estado de ânimo positivo. Lembrando apenas que esforço não significa custo financeiro e sim criatividade e atitude.
Elementos simples podem ser incorporados ou, caso já existam na organização, devem ser valorizados com uma incrementação de valores. Começando pelo Briefing e Debriefing. Processos simples e fáceis de serem efetuados que, necessariamente, nem precisam ser realizados pelos líderes de fato. Pode existir uma rotatividade nessas ações.
O Briefing – que ocorre no início da jornada – trata-se do momento em que a missão é declarada e os valores da empresa ressaltados, direcionando o sentimento de pertencimento para um objetivo comum. O time se une para enfrentar mais um dia que pode fazer toda diferença.
O Debriefing – momento final do período de trabalho - um retrospecto de toda jornada deve ser cuidadosamente relatado. Erros e acertos! O que ficou para amanhã? Como podemos fazer melhor? Esse é o instante em que a equipe recupera a agenda produtiva e se programa para a jornada seguinte. Os erros devem ser destacados de forma impessoal, não se trata da pessoa e sim do problema. A busca por soluções é conjunta e a prospecção de resultados deve ser discutida de forma ampla.
Outro hábito que deve ser implantado é o Job Rotation Senior. Já conhecido de todos, no momento da entrada do profissional na empresa, a troca de funções pode ser uma boa alternativa para criar elevação de moral. Maximizar o aproveitamento das habilidades ou competências precisa ser o fator destacado do gestor em qualquer período de crise. Aqui, a escolha pode ser do próprio colaborador, realizada por meio de um simples instrumento de avaliação. Basta um questionário com poucas perguntas avaliando se ele está satisfeito com o seu posto e, qual outra posição na instituição ele se sentiria mais produtivo.
Talentos podem estar escondidos abafados pelos ruídos das preocupações com o futuro. Permitir a realização de um sonho, que necessariamente não significa realização profissional, é o mesmo que declarar confiança e respeito pelo trabalhador. Ao fim do período programado uma nova e rápida avaliação deve ser efetuada para aferir os resultados obtidos.
Se o caminho apontado é a troca de função, uma nova programação pode ser elaborada e um plano de realocação pode ser colocado em prática.
Fato é que, no instante em que o gestor percebe a primeira parede de vento da tormenta ele deve se preparar para o momento seguinte: o olho do furacão. Ao contrário do dito popular, estar no Olho do Furacão não é igual a um momento cheio de turbulência, trata-se de uma calmaria vigilante pois, o círculo de vento ronda os 360º do campo de visão. O bom gestor deve aproveitar o silêncio dos ventos e montar suas barricadas compostas de tudo de melhor que seus colaboradores podem possuir.
Como duplo pesquisador, o gestor (e também o líder de equipe) deve ter um olho no telescópio, enxergando longe as movimentações externas, e o outro no microscópio, descobrindo talentos em sua própria equipe e permitindo a extração de toda capacidade desses elementos. A visão do jardineiro, que cuida carinhosamente de suas flores deve ser imediatamente substituída pelo mineiro, que cava em profundidade para extrair ouro do centro da Terra.
Focando no potencial interno, criando possibilidades para a manutenção de uma elevada autoestima corporativa junto ao investimento para o surgimento de habilidades inertes, a instituição pode transpor terrenos minados criando pontes ao invés de passos letárgicos. A diferença está na credibilidade do organismo institucional em suas capacidades de automotivação e renovação de talentos dentro do mesmo grupo.
Bernardino Ramazzini, célebre médico italiano, em 1700, efetuou a primeira classificação e sistematização de doenças do trabalho com a publicação de seu livro: De Morbis Artificum Diatriba, considerada um verdadeiro marco na análise e das doenças que podem surgir com a atividade laboral. Dessa época, até os tempos atuais, poucos foram os pesquisadores que investiram na possibilidade da atuação, no ambiente de trabalho, servir como componente na construção de uma saúde física e mental. O contrário parece mais fácil de ser alcançado.