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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

CENA DO CRIME




Por João Oliveira


Quando olhou para o sofá percebeu que o corpo estava do lado esquerdo e que, só não havia tombado ao chão, por ter ficado escorado no braço de veludo muito mais alto que os normais. O prato de comida, na mesa de centro em frente a televisão, revelava que ele não havia terminado a refeição, estava pela metade. Apenas um orifício de entrada do projétil, do lado direito da têmpora, sem saída visível, isto regulava com o perfil de uma bala de pequeno calibre: possivelmente ainda dentro da cabeça da vítima.



- “O senhor viu que a arma está no sofá, do lado do corpo? ” – disse o policial –“Nós não mexemos em nada. Está no mesmo lugar, próximo da mão direita dele. Como a arma é pequena não houve muito coice e caiu aí mesmo perto do corpo. ”



-“Claro, claro...” – O investigador continuou andando pela casa. Na cozinha americana encontrou um prato no escorredor junto a talheres limpos. Voltou ao local do corpo e agora olhou com mais cautela o prato que estava sobre a pequena mesa em frente ao provável suicida.



- “Estranho, quem planeja cometer suicídio não prepara um jantar...” Falou sozinho.



- “Precisamos fechar as informações. ” – falou apressado outro policial – “Fechamos com suicídio? ”



- “Não se trata disto, temos um caso de homicídio aqui. Mas, podemos encontrar o principal suspeito sem sairmos desse andar.” – sorriu de forma estranha o investigador.



-“Como você pode afirmar isto sem ao menos termos um papiloscopista aqui conosco? Você agora vê digitais com seu olho biônico? ” – brincou outro policial que também acompanhava o desenrolar da cena.



-“Não é isto, veja aqui: a vítima deixou a comida do lado direito do prato e os dois talheres estão do lado esquerdo, isto indica que ele era canhoto. Assim, ele não poderia ter atirado com na têmpora direita. ” – continuou – “Veja, o lado do rosto esquerdo dele é maior que o direito, isto só reforça esta possibilidade. E mais, o assassino não está longe. ”



-“E como você pode saber disto? ” – perguntou o mesmo policial.



-“A pessoa que atirou nele estava jantando aqui e, após o tiro, para ocultar seu rastro, teve tempo de lavar o prato que comeu e os talheres, que estão secando na pia da cozinha. ” – e completou – “Só uma pessoa com facilidade total de acesso a esse apartamento teria calma e tempo para fazer isso sem dificuldade. Como o porteiro afirma que ninguém estranho passou pela portaria esta noite ele só pode estar nesse prédio e, muito provavelmente, nesse mesmo andar. ”



- “Só falta você saber também o motivo...”



- “Crime passional! Foi uma mulher! ”



-“Como????” – Falou espantado o policial



- “Cheiro do prato que está secando, a pessoa usou um desinfetante de limão. Você vê algum vidro aqui? ” – mexendo na prateleira da cozinha – “Ache o recipiente deste desinfetante que achará a assassina. Nenhum homem teria este cuidado, este tipo de detergente é especial para não causar danos às mãos. É algo muito refinado e caro! ”



- “Interessante, como é o nome desta técnica que o senhor usa para analisar cenas de crimes? ”



- “Análise Comportamental amigo, os homens sempre se expõem, mais do que desejam, pelo modo de agir. Não há segredos quando você sabe onde olhar. ”



Naquela noite uma série de entrevista revelou que uma das moradoras havia abandonado a cidade, tornando-se assim a suspeita número um do crime. Uma vistoria autorizada em seu apartamento revelou que ela realmente tinha um estoque de detergente de limão na cozinha e que, pelos e-mails descobertos em seu computador, mantinha um secreto romance com a vítima.



O caso estava praticamente encerrado.



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