“Pode uma formiga, atrapalhar o voo de um avião? Pode! Basta o piloto deixar de no céu prestar atenção, para focar neste inseto, pequeno, longe, lá embaixo no chão.”
A grande maioria das pessoas
cria seus próprios limites por não acreditarem nas suas potencialidades. Estes
seriam escudos de força, correntes invisíveis ou muralhas psicológicas que
funcionam como elementos impeditivos de uma jornada produtiva na busca dos
objetivos planejados, isto é, quando a mente permite que se elabore um projeto
de vida.
Como se dá o processo de
acomodação consigo mesmo? Alguns pontos devem ser elencados para trabalharmos
esta ideia. Não são os únicos nem definitivos, mas já ajudam a delinear o
problema.
1)
Ambiente reduzido – Aqui fica clara a imagem do “Siri na Lata”. Estando a pessoa
limitada fisicamente, espaço real, para expandir suas produções ela direciona
sua atenção para as pessoas mais próximas e começa a desenvolver uma angústia
interna, por falta de realizações. Isto pode mobilizar seus atos: para frente -
sai em busca de espaço - ou aterra de vez suas capacidades.
2)
Barreiras psicológicas – Caso a autoestima não seja
desenvolvida nos primeiros momentos de autonomia o sujeito pode criar a idéia –
isso é mais comum do que gostaríamos de acreditar ser possível – que o
sofrimento é parte de um processo de culpa ou merecimento. Ele não se projeta
no futuro vencedor, pois, não é capaz de crer ser merecedor de prêmio algum.
3)
Foco Dissimulador – Quando não existe espaço físico e as
barreiras psicológicas estão claras para a estrutura do sujeito, ele se volta
para assuntos e temas menores para ocupar seu tempo em resolução de coisas
insignificantes no projeto maior. Agora a figura da formiga atrapalhando o
piloto no avião está clara?
O quanto de tempo e energia dispensamos aos problemas dos outros –
mesmo tentado ajudar é bom deixar claro isso – é, de fato, uma fuga dos nossos
próprios dilemas. Naturalmente, devemos conhecer alguma pessoa, ou pode ser
você mesmo, que acredita ter a obrigação de ajudar todos que apresentam algum
tipo de sofrimento. Prontamente, como uma boa pessoa, o sujeito “deixa os
próprios problemas” e se ocupa do que está afligindo o próximo.
Isto não é ser bom.
Podemos analisar este ato como
uma forma de fuga da própria vida: – “Já
que a minha vida não tem jeito mesmo, deixa eu me ocupar com a dos outros.”
Este não é o pior dos Modus
Operandi desta situação. Existe
coisa ainda pior!
Conhece o
colecionador? O torcedor fanático? O fofoqueiro de plantão? Aquele perfil de
sujeito que vive uma novela ou filme como extensão da vida? Ou o fã apaixonado
que segue seu ídolo com fotos, discos , shows e sei lá mais o quê? E o que
dizer de quem passa horas na frente de um computador em redes sociais?
Pare e pense: não
estão também deixando o próprio projeto e investido recursos em algo diferente
que a elaboração do “Eu” próprio?
Claro.
Naturalmente, em sua própria defesa, caso tenha se encontrado em algum ponto
deste texto, você deve estar pensando que estou vendo imensas âncoras de chumbo
sobre guardanapos de papel.
Quando trabalhava
em rádio, no inicio da década de 80, ouvi uma fala interessante de um grande
político sobre a programação das emissoras FM da época: “- Toca tanta música
boa nas rádios que não dá, nem tempo, desta juventude pensar em se revoltar com
alguma coisa!”
Um bom truque para
produção tornar sua mente afiada e focada no seu próprio projeto é criar
rotinas de construção para todos os dias. Escrever, para mim, é uma delas. Mas
é possível utilizar outras como: ler, cultivar plantas, criar animais, se
voluntariar em projetos sociais, praticar esportes...
Quando a mente vê
algo ser realizado, mesmo que pequenas tarefas, o nosso cérebro fica mais
confiante que somos capazes de finalizar nossos objetivos. Neste ponto a
Ludoterapia trabalha muito bem os jogos de perder e ganhar com crianças onde
elas começam a entender o funcionamento da vida aceitado as vitórias com
satisfação e as derrotas como possibilidade de desenvolver novas estratégias no
jogo.
Em verdade, sou
obrigado a confessar, não há um livro de leis dizendo exatamente o que é certo
fazer para conseguir um melhor projeto de vida. Cada ser humano é único com
suas próprias facilidades e limitações, no entanto, existem observações,
comprovadas, da maneira errada de se viver.
Antes de focar
fora, tente encontrar dentro.
João Oliveira
Psicólogo CRP 05/ 32031
Mestre em Cognição e Linguagem