OS BONS PROFETAS NÃO MERECEM IR
PARA O CÉU
Naquela tarde de inverno
menos de vinte pessoas estavam no cemitério acompanhando o sepultamento do
velho Osmar.
Osmar era conhecido
por ter sempre uma boa palavra para qualquer pessoa e a qualquer momento. Elas
o procuravam em busca de conselhos, orientações e ele sempre profetizava.
Isso mesmo, ele era um verdadeiro profeta. Falava
coisas positivas sobre o futuro, indicando caminhos que, com certeza, levariam
aquela pessoa a se descobrir como um vencedor.
Nisso ele realmente
era muito bom: motivar pessoas.
Muitas vezes, era justamente
aquela palavra de incentivo que faria toda a diferença na vida do indivíduo. Quem
estava pensando em desistir, após ouvir o velho Osmar, retornava a luta, ao
trabalho e invariavelmente conseguia obter o resultado que tanto almejava.
Naquele frio dia
era o seu enterro.
As pessoas que lá
estavam não representavam ao nem mesmo um por cento de todos que ele tocou com
seus dizeres em sua larga existência.
Então, em algum
momento, alguém quebrou o silêncio e falou com voz alta:
- Que o céu o
receba de braços abertos! Osmar você merece o paraíso!
Foi aplaudido por
todos. Menos por um homem que estava usando um grande chapéu preto.
- Esse homem vai
para o céu sim. Mas, não é porque merece. – Disse num tom denso o homem do
chapéu – Ele vai para o céu porque no inferno não é bem-vindo e nem nunca o será.
O silêncio voltou
ao ambiente. Todos olharam raivosamente para o homem que havia proferido tais
palavras. Na verdade, estavam confusos, pois, não sabiam se tinham entendido direito
o que tinham acabado de ouvir.
- Como ousa! –
Gritou um deles.
- Um absurdo! Cale
essa boca! – Disse outro mais próximo da urna.
- Como assim ele
não merece ir para o céu? Explique-se! – Falou um mais sensato.
Os olhares ainda
miravam na direção do homem do chapéu preto. Mas, antes que algo pior ocorresse,
um senhor idoso tomou a iniciativa e começou a falar calmamente:
- Este desconhecido
pode estar certo. – Era o padre da igreja matriz - Sim, Osmar era um homem bom.
Um profeta de fato e, justamente por isso, ele pode ser mais útil no inferno
onde tantas almas perdidas precisam ouvir palavras de libertação. – Finalizou o
vigário sorrindo.
Os presentes
tiveram uma mudança de semblante. Agora as faces exibiam um misto de tristeza e
compreensão em suas expressões.
- Verdade ! – Disse
um outro moço perto da lápide - O velho Osmar iria preferir continuar em sua
missão de auxiliar pessoas a se encontrarem do que se deleitar deitado sob uma
sombra silenciosa no paraíso.
Todos deram altas
risadas.
O clima de enterro
se transformou em uma festa de comentários alegres sobre os feitos do falecido profeta.
Agora, a máquina já
descia a urna para seu destino no fundo da cova. E as pessoas, aos poucos,
estavam saindo de volta para suas casas.
- E o senhor, com
esse belo chapéu preto, quem é? – Perguntou o pipoqueiro que sempre aproveitava
os grupos que se formavam na porta do cemitério para aumentar o seu
faturamento.
- Eu? – Sorriu maliciosamente
o estranho homem que, com sua voz rouca, disse:
– Sou o único que
não quer, de jeito nenhum e por boas razões, que esse velho profeta venha para
o inferno! Estou torcendo para que ele seja aceito no céu hoje mesmo.
Com uma gargalhada terrível
em meio a uma explosão de fumaça o homem desapareceu magicamente. Ficando
apenas o seu chapéu preto no chão.
Foi então, que todos
apavorados, puderam ver dois buracos na aba, um em cada lado do chapéu.
- O velho Osmar era
mesmo importante – Disse o pipoqueiro ainda tremendo do susto – Até mesmo o “coisa
ruim” veio ter certeza de que ele não vai mais atrapalhar seus planos de
ruindade aqui na Terra.
Essa história,
queridos amigos, é contada há muito tempo nessa pequena cidade. Há quem diga
que o demônio continua por lá. Porém, agora frequenta uma igreja se divertindo muito
atormentando os pastores.
E como dizem por
aí: - O inferno está cheio de gente que teve boas intenções. Faltou foi
orientação para fazer da forma certa.
Ocorre que a boa orientação,
vinda de uma pessoa mais experiente ou sábia, auxilia no direcionamento de
esforços para alcançarmos nossos propósitos de vida. Mas, até mesmo isso deve ser
feito da forma correta.
Para uma pessoa que
possui baixa capacidade de compreensão a orientação deve ser estruturada com
comandos simples do tipo: vá, pare, siga ou volte.
Já para outros que detêm
uma imaginação mais apurada e uma taxa de compreensão maior, as informações
podem ser encaminhadas na forma de metáfora ou analogia. Como por exemplo, a
fábula da cigarra e da formiga. Quem ouve pode entender que: aquele que
trabalha e poupa, ao invés de só se divertir, terá recursos em momentos de escassez.
Assim, aprender
pelos próprios erros e acertos custa algo que não temos muito: tempo de vida.
O melhor é buscar
um bom profeta como o velho Osmar. No entanto, muitas vezes, esse personagem já
se encaminhou para o céu ou inferno.
Nesse caso, pode
ser que ele tenha deixado orientações por escrito. Esse perfil de comunicação
entre mentor morto e mentorado vivo ocorre com a leitura de bons livros.
Por: João Oliveira
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