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quarta-feira, 20 de julho de 2022

OS BONS PROFETAS NÃO MERECEM IR PARA O CÉU

 


OS BONS PROFETAS NÃO MERECEM IR PARA O CÉU

 

Naquela tarde de inverno menos de vinte pessoas estavam no cemitério acompanhando o sepultamento do velho Osmar.

Osmar era conhecido por ter sempre uma boa palavra para qualquer pessoa e a qualquer momento. Elas o procuravam em busca de conselhos, orientações e ele sempre profetizava.

 Isso mesmo, ele era um verdadeiro profeta. Falava coisas positivas sobre o futuro, indicando caminhos que, com certeza, levariam aquela pessoa a se descobrir como um vencedor.

Nisso ele realmente era muito bom: motivar pessoas.

Muitas vezes, era justamente aquela palavra de incentivo que faria toda a diferença na vida do indivíduo. Quem estava pensando em desistir, após ouvir o velho Osmar, retornava a luta, ao trabalho e invariavelmente conseguia obter o resultado que tanto almejava.

Naquele frio dia era o seu enterro.

As pessoas que lá estavam não representavam ao nem mesmo um por cento de todos que ele tocou com seus dizeres em sua larga existência.

Então, em algum momento, alguém quebrou o silêncio e falou com voz alta:

- Que o céu o receba de braços abertos! Osmar você merece o paraíso!

Foi aplaudido por todos. Menos por um homem que estava usando um grande chapéu preto.

- Esse homem vai para o céu sim. Mas, não é porque merece. – Disse num tom denso o homem do chapéu – Ele vai para o céu porque no inferno não é bem-vindo e nem nunca o será.

O silêncio voltou ao ambiente. Todos olharam raivosamente para o homem que havia proferido tais palavras. Na verdade, estavam confusos, pois, não sabiam se tinham entendido direito o que tinham acabado de ouvir.

- Como ousa! – Gritou um deles.

- Um absurdo! Cale essa boca! – Disse outro mais próximo da urna.

- Como assim ele não merece ir para o céu? Explique-se! – Falou um mais sensato.

Os olhares ainda miravam na direção do homem do chapéu preto. Mas, antes que algo pior ocorresse, um senhor idoso tomou a iniciativa e começou a falar calmamente:

- Este desconhecido pode estar certo. – Era o padre da igreja matriz - Sim, Osmar era um homem bom. Um profeta de fato e, justamente por isso, ele pode ser mais útil no inferno onde tantas almas perdidas precisam ouvir palavras de libertação. – Finalizou o vigário sorrindo.

Os presentes tiveram uma mudança de semblante. Agora as faces exibiam um misto de tristeza e compreensão em suas expressões.

- Verdade ! – Disse um outro moço perto da lápide - O velho Osmar iria preferir continuar em sua missão de auxiliar pessoas a se encontrarem do que se deleitar deitado sob uma sombra silenciosa no paraíso.

Todos deram altas risadas.

O clima de enterro se transformou em uma festa de comentários alegres sobre os feitos do falecido profeta.

Agora, a máquina já descia a urna para seu destino no fundo da cova. E as pessoas, aos poucos, estavam saindo de volta para suas casas.

- E o senhor, com esse belo chapéu preto, quem é? – Perguntou o pipoqueiro que sempre aproveitava os grupos que se formavam na porta do cemitério para aumentar o seu faturamento.

- Eu? – Sorriu maliciosamente o estranho homem que, com sua voz rouca, disse:  

– Sou o único que não quer, de jeito nenhum e por boas razões, que esse velho profeta venha para o inferno! Estou torcendo para que ele seja aceito no céu hoje mesmo.

Com uma gargalhada terrível em meio a uma explosão de fumaça o homem desapareceu magicamente. Ficando apenas o seu chapéu preto no chão.

Foi então, que todos apavorados, puderam ver dois buracos na aba, um em cada lado do chapéu.

- O velho Osmar era mesmo importante – Disse o pipoqueiro ainda tremendo do susto – Até mesmo o “coisa ruim” veio ter certeza de que ele não vai mais atrapalhar seus planos de ruindade aqui na Terra.

Essa história, queridos amigos, é contada há muito tempo nessa pequena cidade. Há quem diga que o demônio continua por lá. Porém, agora frequenta uma igreja se divertindo muito atormentando os pastores.

E como dizem por aí: - O inferno está cheio de gente que teve boas intenções. Faltou foi orientação para fazer da forma certa.

Ocorre que a boa orientação, vinda de uma pessoa mais experiente ou sábia, auxilia no direcionamento de esforços para alcançarmos nossos propósitos de vida. Mas, até mesmo isso deve ser feito da forma correta.

Para uma pessoa que possui baixa capacidade de compreensão a orientação deve ser estruturada com comandos simples do tipo: vá, pare, siga ou volte.

Já para outros que detêm uma imaginação mais apurada e uma taxa de compreensão maior, as informações podem ser encaminhadas na forma de metáfora ou analogia. Como por exemplo, a fábula da cigarra e da formiga. Quem ouve pode entender que: aquele que trabalha e poupa, ao invés de só se divertir, terá recursos em momentos de escassez.

Assim, aprender pelos próprios erros e acertos custa algo que não temos muito: tempo de vida.

O melhor é buscar um bom profeta como o velho Osmar. No entanto, muitas vezes, esse personagem já se encaminhou para o céu ou inferno.

Nesse caso, pode ser que ele tenha deixado orientações por escrito. Esse perfil de comunicação entre mentor morto e mentorado vivo ocorre com a leitura de bons livros.



Por: João Oliveira


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