- A palavra! Certamente é o mais relevante.
Buda,
sem parar de comer, o interrompeu:
- Zeus, tem de existir intenção. Sem intenção não há força
nas palavras...
- Não me chame assim gordinho. Não gosto que me chamem pela
minha identidade grega. -Disse Zeus (desculpe) Júpiter!
- Júpiter está certo!
A mesa
inteira olhou para o jovem rapaz cabeludo e de barbas longas.
- Como sabem, falo em nome de Meu Pai e nas escrituras sagradas
está escrito que no princípio era o verbo. Somente da palavra de Meu Pai que tudo
foi construído. Dessa forma, está bem claro a força que existe na palavra.
- Jesus – falou Buda – Em primeiro lugar fale por você
mesmo, já que é você que está aqui na mesa conosco e, em segundo lugar, nem
todo mundo tem o poder de Seu Pai. Sendo assim a palavra pode ter pesos
diferentes dependendo de quem a profere.
Jesus,
nitidamente aborrecido, olhou firme para Buda e disse:
- Gordinho, existia um homem que vivia nas montanhas
cuidando de ovelhas, um dia...
- Pêra aí? Outra parábola?
Não! De deixo nenhum... – cortou Buda
A mesa
inteira olhou sério para Jesus e ele finalizou:
- Conto essa depois.
Eu permanecia
sentado quieto no meu canto apenas observando o desenrolar daquela interessante
discussão. Foi quando Vishnu se levantou (na verdade flutuando) e disse quase
cantando:
- Todos aqui sabem que são meros frutos de meu estado
onírico. No meu despertar tudo será desconstruído. Mas, estando em meu sonho,
nesse momento, merecem minha atenção.
Júpiter
ameaçou falar algo, mas Vishnu continuou:
- O mais importante é cultuar o afastamento da ideia de uma
personalidade isolada do todo e, ao alcançar a unidade, cultivar o real desejo
pela conquista de seus objetivos. Somente então a intenção e a palavra podem
ter seus efeitos.
- Concordo plenamente – Disse Krisnha de forma superanimada
e começou a bater palmas para Vishnu – Muito boa a sua fala senhor!
- Muito obrigado, mas quem é o senhor?
- Eu? Eu sou você amanhã! – Respondeu Krisnha sorrindo.
Mitra,
que estava quase escondido em seu lugar, toma a palavra de maneira tímida:
- Senhores, acho que tudo isso só pode ser possível se o
individuo possuir a clareza de uma construção frasal adequada. Sem saber pedir
ao universo pode-se conseguir um retorno negativo daquilo que realmente deseja.
Muitas pessoas não sabem solicitar o que desejam... não sabem falar o que
querem...
Júpiter,
e os demais da mesa, ficaram pensativos e em silêncio. Foi nesse momento que
Buda me olhou e falou:
- E você? Representante dos humanos nesse sonho paradoxal, o
que tem a dizer?
De
fato, era um sonho. Era possível perceber que a sala mudava de tamanho e forma
a cada momento. Mas, já que estava ali tinha de colocar meu pensamento:
- Tudo que todos os senhores disseram é verdade e faz parte de um conjunto único.
Consegui
a atenção deles: todos olhavam para mim.
- No entanto, posso acrescentar apenas um detalhe: a consciência.
É primordial que a consciência esteja desperta para que o desejo, fé, crença ou
intenção estejam colocados de maneira correta. Assim, a palavra, articulada com
o conteúdo assertivo, pode encontrar o eco perfeito no universo que sempre
responde: queiramos ou não.
Silêncio
na mesa e finalmente Vishnu falou:
- Mas, foi exatamente isso que eu disse.
Alguns
deram risadas e eu finalizei:
- É preciso despertar as pessoas, ativar a consciência de
quem são e do que podem.
Acordei,
neste instante, sob a ilusão de ter ouvido uma salva de palmas.
Por João Oliveira