Por João Oliveira – Psicólogo (CRP
05/32031)
Do alto
da mais alta nuvem, naquele céu de agosto, duas entidades conversavam:
- Olhando assim não me parece muito promissor mesmo, acho
que é hora de tentar recomeçar o processo.
- Não é tão ruim assim, na minha opinião o único problema
são os buracos do pescoço para cima e a relação com a potência maior.
- E do pescoço para baixo?
- Nem se preocupe: só reverberam o que foi decidido pelos buracos
superiores.
Uma das
divinas criaturas se levanta e caminha sobre a branca nuvem que parecia um
lençol de cetim.
- Sete buracos acima do pescoço! Pode contar.
- Acho que alguns são maiores (e mais relevantes) que
outros...
- É por causa da função. Mas veja bem, esses sete, que estão
acima do pescoço são os mais perigosos.
- Assim você me faz rir. Os dois que estão abaixo da cintura
é que geram todo o problema.
Um raio
surge, rapidamente, de cada olho da entidade que caminhava.
- O que você não entende? São nove buracos que comandam quem
deveria comandar! – Gritou furiosa a criatura da outra dimensão.
- Não entendo mesmo que uma potência tão fabulosa como a que
existe em cada corpo seja escrava de buracos, sejam elas acima do pescoço ou
abaixo da cintura. Isso não pode ser o foco de nossa discussão. Temos assuntos
mais relevantes para tratar.
- Não é o assunto mais relevante! O que está criando toda
confusão é que você mantém a potência maior adormecida. Assim ela não controla
os buracos e torna essa era infernal. Eles não sabem o valor da potência maior.
Os nove buracos mandam no corpo.
- Tudo bem! – Falou calmamente a criatura que estava sentada
fazendo pequenas bolas com as frágeis nuvens ao seu redor – Por favor me
coloque o seu ponto de vista antes que eu libere uma destruição e comece todo
nosso jogo outra vez. Aliás, já se passaram os 432.000 anos.
- Não pelo calendário Juliano. Por ele você só têm 5.000
anos de existência e comando nessa era! Aliás, você sabe muito bem que nasceu à
meia-noite em 18 de fevereiro de 3102 a.C. não é? Deixe-me te explicar uma
coisa Kali, essa era pode ser sua, mas, eles
podem ter alguma chance. Afinal, todos têm a nossa imagem e semelhança. Basta
que você me deixe liberar um pouco (só um pouquinho) da potência maior e
explicar para eles como funciona sem entrar em um confronto direto com você.
- Kalki meu amigo, você
ainda terá de nascer entre eles e ser reconhecido como avatar para, só então,
me enfrentar. Está escrito!
- Eu sei, eu sei... Mas lembre-se que, pelas escrituras, eu
te destruo no futuro. Isso será mesmo necessário? Sabe, não suporto vê-los
assim. Grande capacidade e tudo perdido por causa de buracos.. buracos...
- Você ia me explicar...
- Sim, desculpe! A potência maior está aprisionada diante do
fluxo que entra pelos buracos do corpo sem serem devidamente apurados. Para
começar temos a boca que perdeu sua função completamente. Ela deveria ser útil
para alimentação e comunicação, hoje se transformou em elemento de captação de
prazer nos dois sentidos. Sorve químicas e comunica asneiras.
- Concordo! – Falou Kali.
- Os dois ouvidos! Eles não escolhem no que devem prestar
atenção e inundam a potência maior de informações sem nenhuma qualidade criando
confusões nas interpretações. Muita bobagem ao mesmo tempo.
- Concordo também! – Disse Kali mais uma vez e Kalki
continua.
- Os dois buracos do nariz nem causam tanto problema, mas se
juntam a boca no quesito busca de prazer pois, estão interligados para ampliar
o sabor das químicas.
- Está quase acabando seu tempo!
- E, os dois piores que estão acima do pescoço: os olhos!
- Realmente esses buracos são poderosos.
- Eles acreditam em tudo que é captado por eles! As ilusões
do mundo entram como verdade e as tentações são simplesmente assimiladas como
se fossem necessárias para a existência. A potência maior não tem tempo para
coordenar o volume de imagens desnecessárias.
- Isso mesmo! Concordo com tudo que disse – balançou a
cabeça Kali – Mas, me diga sobre os dois buracos que estão abaixo da cintura.
Eles são os que realmente criam os problemas.
- Kali, devo seu sincero com você. O que ocorre com os dois
buracos abaixo da cintura, na verdade, é apenas uma consequência do que se
passou lá no alto, acima do pescoço. Não vou colocar na conta o que esses dois
fazem ou deixam de fazer. Não vou punir ninguém pelo uso ou desuso.
- E o excesso?
- Não são buracos por onde entram informações para tomada de
decisão. Eles já estão envolvidos no que a potência maior, certo ou
erradamente, decidiu: estão na ponta do processo e não no início.
- Então, em sua opinião o que devemos fazer?
- Deixe-me liberar o poder da potência maior.
- Quem disse que ela está presa Kalki? Ela está plenamente
solta e sendo amplamente usada. Apenas não me culpe pelas escolhas que eles
fazem. Tudo é apenas uma questão de escolhas. Vamos fazer um trato?
- O que pretende?
- Tenho dois outros mundos que Brahma acabou de construir,
vamos lá olhar com cuidado desde o início e ver como uma Yuga se forma.
Lembre-se caro amigo... são apenas eras, nós somos eternos.