Por João Oliveira
A
Lei Nº 7.783, de 28 de Junho/89 versa
sobre o direito de greve e as responsabilidades dos grevistas diante das
necessidades inadiáveis da população em serviços essenciais. Algumas pessoas
podem pensar que fazer greve é o simples ato de cruzar os braços paralisando
uma produtividade qualquer. Na realidade existe um rito legal que deve ser
cumprido para que o movimento esteja dentro dos parâmetros da lei. Seguir as
orientações das assembleias sindicais, notificar a entidade patronal ou
empregadores com antecedência de até 48 horas e manter o emprego de
meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à
greve, estão entre as mais importantes.
Nos últimos meses
temos associado movimento grevista a distúrbio violento nas ruas,
principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, no entanto, as
reivindicações trabalhistas pouco (ou nada) tem a ver com as cenas violentas
que surgem durante as passeatas ou aglomerações.
O problema reside em um movimento chamado de
contágio psíquico que consegue, em meio a ânimos alterados, mudar completamente
o perfil de um movimento ordeiro em algo próximo ao caos. Um exemplo de como isso funciona é a
conhecida folie-à-deux (Transtorno Psicótico Induzido ou Transtorno Psicótico
Compartilhado), um elemento dentro de um distúrbio psíquico pode contaminar um
sujeito em sua proximidade que, por sua vez, irá manifestar os mesmos sintomas
do verdadeiro doente.
Nos
grandes movimentos grevistas, nas manifestações, as emoções alteradas podem
seguir um curso primário de contaminação coletiva pelos feromônios.
Nos seres humanos esse processo ainda não está totalmente esclarecido, mas,
entre os animais, é a forma mais rápida de comunicação existente.
Diante
do perigo um animal com medo irá exalar feromônios específicos que irão
comunicar ao restante do grupo o que está ocorrendo. Imediatamente as
alterações endócrinas, responsáveis por mudanças fisiológicas, entram em ação
permitindo que os indivíduos desta espécie possam ter energia para correr ou
lutar de forma rápida.
A
falta de racionalidade, capacidade de análise fria dos fatos, se instala
provocando comportamentos violentos impensáveis em pessoas equilibradas em seu
estado de ânimo normal. São incontáveis os eventos históricos onde fatalidades
ocorreram. Em 8 de março de 1857, durante uma greve nos Estados Unidos, 129
operárias foram queimadas vivas em um incêndio criminoso durante um estado de
greve. Deste fato surge o Dia Internacional da Mulher.
Alguns
estudiosos, entre eles o biólogo inglês Rupert Sheldrake, cultivam
ideias mais complexas como a teoria dos campos morfogenéticos onde
grupos poderiam compartilhar informações de modo inconsciente. Assim decisões
grupais poderiam ser tomadas sem nenhum ordenamento formal.
O
que deveria ser um mecanismo funcional dentro de uma estrutura organizada, o
movimento de greve pode, em algumas ocasiões, se transformar em algo
descontrolado nas manifestações onde um grande número de pessoas manifestam
emoções diversas. O nível de tensão gera medo e raiva que é a pior conjugação
possível das emoções em qualquer ser vivo pois o transforma em um animal
acuado.
Quando
vemos a confusão nas ruas fazemos uma ligação direta com as reivindicações dos
grevistas e, automaticamente, nos esquecemos que são indivíduos à mercê de suas
emoções. Não há raciocínio lógico quando a emoção toma conta levando, qualquer
pessoa, a atos impensáveis em uma situação normal. O ápice deste viés é o
linchamento público quando uma multidão faz justiça (violenta) com as próprias
mãos. A grande maioria nem tem ideia direito do que está de fato ocorrendo
naquele momento.
Podemos
dizer que ninguém está livre deste contágio muito menos as autoridades da lei
que se fazem presentes como guardiões da ordem. O mesmo fenômeno ocorre em
qualquer grande agrupamento humano mas, é claro, que onde existe revolta
instalada – portanto, as reivindicações – é mais fácil ocorrer o distúrbio
generalizado. Tenha como exemplo os combates de torcidas organizadas.
Assim
podemos pensar em alguma forma de lutar pelos nossos direitos trabalhistas em
um formato onde seja evitado formações de grandes grupos em vias públicas. O
resultado pode ser, também alterado, se um controle emocional for bem
estabelecido através de uma boa comunicação assertiva dos que comandam e algum
treinamento comportamental.
Todos
nós, pessoas saudáveis emocionalmente, corremos o risco de nos envolvermos em
algum tipo de descontrole emocional. Basta algum evento traumático surgir
diante de nós para que o mecanismo de proteção a própria vida nos envolva e,
como mágica, faça desaparecer toda racionalidade que temos. O melhor que se
pode fazer é, dentro do possível, evitarmos estar presentes em ambientes que
podem gerar eventos desta natureza.
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