Ninguém nunca havia voltado de lá e, observar aquele platô incitava a forte curiosidade dos meninos da aldeia.
- O que existe lá no alto? – sempre perguntavam aos mais velhos.
- Nada, só pedras! – ou - Não é permitido subir. – ou ainda - Não interessa o que existe lá, pertence aos antigos: é sagrado. – eram sempre essas as repostas que ouviam.
E ainda mais, existia uma proibição de subir que punia severamente qualquer um que se atravesse entrar na trilha de subida. Bastava um movimento inconsciente na direção da montanha, que alguém já denunciava ao conselho de idosos.
Um dia o pequeno Jonas, de apenas 13 anos, em perseguição a um esperto coelho não se deu conta que ia em direção ao misterioso platô. Como já estava no meio do caminho e ninguém o havia visto, ele decidiu desvelar o mistério do platô e continuou a escalada após ter desistido do coelho. Já estava noite quando ele percebeu onde se encontrava: quase no topo! Como era muito escuro (noite sem lua), ele havia se perdido no mato e já não sabia se subia ou descia. Preocupado com a família e com fome, parou para descansar e adormeceu.
Ao abrir os olhos teve uma grande supresa. Estava deitado no cume do platô. Suas roupas estavam limpas, ele estava sem fome e, se sentindo muito bem. Muitas pessoas lá estavam também, todas belas e bem dispostas, duas vieram lhe cumprimentar.
- Seja bem vindo Jonas. – falou o mais velho.
- Como sabe meu nome?
- Aqui sabemos de tudo que se passa na sua aldeia. E também sabemos o que irá ocorrer no futuro.
- No futuro? Como isso é possível?
- Você está no Platô do Tempo, um lugar acima das prisões físicas corporais. Venha, deixa eu te mostrar um pouco. A beirada norte é o futuro, veja lá em baixo como a vila irá se transformar em uma grande cidade dentro de 50 anos. – continua o velho – Aqui, na rampa sul, podemos ver o passado. Lá embaixo, repare bem, são apenas cinco cabanas de quando a vila começava a se instalar.
- E os lados leste e oeste?
- Estes são destinados ao vislumbre da vida e da morte. Ao Leste vemos o ambiente dos vivos no momento presente.
- Nossa! – disse Jonas – o oeste deve ser então o mundo dos mortos, não é?
- Na verdade Jonas, é apenas um grande espelho. Na noite de ontem o frio da madrugada trouxe você até nós. Eu, você e todos aqui no Platô do Tempo estamos mortos e presos, por toda eternidade, por ter desafiado a lei que proibe a escalada dos vivos até aqui.
Esta é apenas uma metáfora para ilustrar o movimento comum da grande curiosidade que temos sobre tudo na vida. Procuramos sempre coisas novas e nosso cérebro adora mistérios. O problema reside na capacidade que temos de lidar (ou não) com as revelações que podem surgir diante de nós caso tenhamos sucesso em algumas incursões.
Será que estamos preparados para estar diante de todas as verdades que buscamos?
Não importa muito qual seja o objeto em questão do mistério. Pode ser qualquer coisa como, por exemplo, a verdade completa sobre as pessoas que nos rodeiam. Pense desta forma: as pessoas lhe tratariam da mesma forma se soubessem tudo a seu respeito? Então algumas verdades podem ficar guardadas pois, já foram úteis no seu processo de adultificação, ou coleta de angústias.
Fato é que o mundo (e as pessoas) sempre terão seus segredos e mistérios. E isso não é ruim. Muitas vezes é melhor saber pouco para sofrer menos ainda e aproveitar mais as coisas boas que o mundo e as pessoas podem nos oferecer.