Por Prof. Msc. João Oliveira
As questões ligadas a Análise
Comportamental sempre elencam questionamentos quanto à validade do uso pleno da
verdade contra a prática da mentira social. Sempre colocamos, em nossos
treinamentos de análise comportamental, os quatro perfis mais comuns da
mentira.
Sem
querer ser repetitivo, pois, já tratamos deste tema em junho/13 vale à pena colocar
de novo em pauta para fomentar o debate:
1)
Mentira Social – mais presente em nossa vida
atual. Não esconde nenhuma intenção maldosa grave, ocorre de forma natural e,
já é praticamente esperada numa conversação social. Não há grande alteração na
linguagem corporal ou nas expressões faciais. Em alguns casos o mentiroso pode
exibir desprezo ou desdenho, microexpressões, de acordo com sua intimidade com
o sujeito à sua frente. São observações sobre aparência, estado de ânimo ou
falsas concordâncias. Nada que possa criar prejuízo ao alvo da mentira. Sem
este perfil da mentira os elos sociais seriam destruídos facilmente. De fato, o
próprio mentiroso não se dá conta do que está fazendo.
2)
Mentira Estratégica – Nesse caso, a intenção da
mentira, que é obter algum tipo de lucro ou vantagem, provoca um estado de ânimo
especial no mentiroso e, sua movimentação corporal se torna muito eloquente.
Ele projeta o corpo à frente, amplia argumentos verbalizados, faz aquele
movimento conhecido com olhos acima à direita (sendo destro), criando imagens
em sua mente, gesticula muito etc. Sintetizando: ele quer convencer a todo
custo.
3)
Mentira por Medo – aqui o mentiroso teme que, se
a verdade vier a público, um prejuízo (ou punição) cairá sobre ele. Sua
linguagem corporal pode tender à retração, ocultação das palmas das mãos, surge
uma tendência de colocar objetos entre ele e o sujeito inquisidor. Seu olhar
pode tentar fugir, as expressões faciais ficam mais tensas demonstrando medo,
espanto ou raiva de acordo com o nível de pressão que estiver sendo submetido e
o seu comprometimento com a falsa história relatada. O tempo de resposta muda,
fica mais lento, e os pés, muitas vezes, irão apontar em outra direção,
provavelmente para a porta de saída do lugar onde se encontra.
4)
Mentira de Preservação – ocorre quando o
instrumento da mentira é utilizado para poupar alguém de uma notícia
devastadora. Quando isso ocorre, a emoção que prevalece, nas expressões
faciais, é a tristeza. O rebaixamento do tônus verbal e da postura corporal
podem indicar, também, que existe algo muito ruim que não está sendo dito.
Claro que a intenção de quem mente nesse caso é boa e, assim, esse se torna um
bom argumento para afirmar que, às vezes, a mentira é necessária.
Fato é que não
basta apenas identificarmos se a pessoa mente. O grande problema reside em
saber os motivos que a levam a ter esta postura comportamental. Estas
observações dos quatro tipos mais comuns estão restritas a pessoas normais e
que sabem que estão mentindo. Muitas vezes a pessoa replica algo que ouviu sem
ter checado se o fato realmente era verdadeiro e, neste caso, a pessoa que fala
não mente, apenas relata o que tem como verdade – embora de fato não seja.
Já os
profissionais da mentira – atores – ou os doentes, portadores de distúrbios,
podem se tornar indetectáveis o que elimina a possibilidade de um super
treinamento para dotar seres humanos da capacidade de serem polígrafos ambulantes.
Não existe um
único sinal que revele a mentira e, mesmo os sinais aqui expostos podem estar
relacionados ao contexto físico ambiental. Coçar o pescoço pode ser uma súbita elevação
da pressão arterial e a rápida passagem do sague pelos vasos periféricos – algo
que caracteriza alteração psicológica – mas também pode ser o tecido incômodo da
gola da camisa.
Assim não é
possível solucionar de forma tão fácil o problema da mentira. Aliás, se for
mentir, faça isso sorrindo. Mesmo um sorriso falso irá tirar do cérebro a
capacidade plena de atenção ao conteúdo; ocorre que fomos preparados
geneticamente para valorizarmos o sorriso acima de tudo. Afinal, da correspondência
ao sorriso da mãe depende a sobrevivência do bebe recém nascido.
Já sobre a
análise das emoções e suas expressões temos uma outra história e, com esta
estrutura de percepção bem alinhada não há como ser, de fato, traído pelo outro
numa abordagem comunicacional.
Um último
alerta: jamais pense que um conhecimento como este irá trazer a solução para os
problemas de comunicação se você não estiver preparado para não se deixar influenciar
pelas opiniões alheias. Ao contrário, um sujeito suscetível irá sofrer muito ao
perceber, nas microexpressões faciais, emoções negativas aos seus argumentos ou
sua simples presença. Saber contornar e alinhar relacionamentos pela
identificação de características refratárias apresentadas de forma inconsciente
é o grande trunfo de um bom praticante de análise comportamental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário