O mágico colocou
a cartola sobre a mesa, com a boca virada para cima, e gritou: – “Alakazan!”.
Um silêncio imperou no auditório, a expectativa era grande, pois o anunciado é
que, desta minúscula cartola, sairiam um enorme elefante e um pequeno coelho.
Mas, nada ocorreu. O mágico, desolado, pediu desculpas e, sob vaias, deixou o
palco.
No camarim,
cabisbaixo, ouve uma voz que vem do fundo da cartola:
– “Ei, psit, senhor mágico, está me ouvindo?”
O mágico responde:
- “Quem está falando?”
- “Calma! – diz a voz – Sou eu, o elefante...
tudo bem?”
- “Claro que não! – responde o mágico – Vocês
me fizeram passar o maior fiasco, o que houve que não saíram da cartola?”
- “Bom, – fala o elefante – o coelho anda
meio deprimido, e, sabe como é, eu não ia sair sozinho da cartola, o show não
seria completo!
- “O que aconteceu com o coelho? – pergunta o
mágico nervoso – Ele está vivo?”
- “É, até está, – diz o elefante – mas muito
mal, ele anda meio deprimido, você poderia nos ajudar se comprasse uma
televisão 42 polegadas de leds e um desses vídeo games possantes, acho que o
coelho iria se animar.”
O mágico comprou
a maior TV de leds que encontrou e um vídeo game XBOX 360, com muitos jogos
divertidos. Enfiou tudo na cartola.
A noite estava
quente, mais de 200 pessoas na plateia, o show estava apenas começando. Todos
esperavam a saída triunfal do elefante e do coelho da cartola. O mágico grita a
palavra que já conhecemos e, mais uma vez, nada acontece. Grita nervoso novamente:
- “Alakazan!”. Desta vez o público não tem paciência, tudo que podia ser
atirado ao palco atingiu o mágico: tomates, ovos, pedras e até cadeiras.
No camarim ele
se revolta:
- “Por que vocês não saíram da cartola?”
- “Sabe o que acontece, – diz o elefante – o
coelho não encontra espaço vital depois que a televisão chegou, ela é muito
grande e a cartola pequena. Acho que o senhor deveria comprar uma cartola
maior”.
O mágico comprou
a cartola maior, transferiu todos os pertences de uma para outra. Agora, tudo
parecia certo. O novo show estava pronto. Multidão se acotovelava na porta do
teatro. Mais de mil pessoas pagaram ingressos. O espetáculo vai começar.
O grito do
mágico assusta as crianças: - “ ALAKAZAAAAAAAN!”. Ecoa o silêncio no ambiente –
“ALAKAZAAAAAN !” Repete em desespero. E, mais uma vez, nada ocorre. O mágico já
estava abaixando a cabeça e se escondendo atrás da capa quando surge a tromba
do elefante saindo, timidamente da cartola. Como um periscópio ela se move
apontando na direção da plateia para, subitamente, em um movimento rápido recuar,
como quem toma um susto, vira em 180 º e sua ponta foca no mágico:
- “Casa cheia hoje hein?” – fala em tom
macio.
- “Temos mais de mil pessoas hoje no teatro,
por favor, saiam da cartola!”
- “Pois é – diz o elefante – Seria um mau
momento para conversamos sobre participação nos lucros?”
Moral da
história: “Dê a mão, e eles lhe arrancarão os braços”!
O que podemos
tirar deste pensamento é que o contrato, termos contratuais, devem ser
explícitos e confirmados pelas partes. Mesmo quando começamos uma relação
profissional com pessoas com quem mantemos laços espetaculares devemos pensar
em colocar, no papel, o que pretendemos no futuro sobre a produção que estar
por vir.
No início tudo
pode ser maravilhoso e a situação pode influenciar numa relação participativa
harmoniosa. No entanto, o tempo e o resultado do trabalho podem alterar a
percepção inicial. Por isso, o papel (contrato) pode nortear as querências
futuras.
Os problemas que
surgem durante o desenrolar de uma parceria são mais comuns do que imaginamos
e, muitas vezes, o sucesso de uma empresa pode ser prejudicado por má
distribuição de deveres e obrigações no início do processo. A questão da
retirada de lucros nem é o ponto mais importante nos atritos, mas o que se faz
para que o resultado ocorra.
A parte
intelectual do processo, o investimento, a força produtiva e, caso exista,
distribuição e venda quase sempre disputam a relevância pelo sucesso. Para que
isto não se torne um problema futuro deve-se montar um claro texto onde, todos
envolvidos saibam exatamente o que lhes é devido.
Pode-se, ainda,
colocar um item valioso neste texto, o distrato. Onde já devem ficar acordado,
pelas partes, motivos para a extinção do vínculo originado do contrato, a
condição gatilho para que o processo tenha uma interrupção, caso algo saia
errado. Assim não haverá maior desgaste.
Bom para o
coelho que, em nenhum momento, se manifestou para solicitar melhorias em sua
relação e que, pelo visto, sempre teve vantagens dentro desta montagem. Pior
para quem se achava mágico capaz de controlar, apenas pela palavra, toda
situação.
A verdade é que,
de elefante, todos nós temos um pouco: sempre querendo mais do universo.
Ainda bem!
Este texto foi publicado na Revista Psique número 85 no espaço de RH.
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