Sabemos que Persona, termo usado pela psicologia analítica, é a máscara que usamos no dia a dia para podermos existir, enquanto ser relacional, no mundo real. Temos, portanto, múltiplas personas, várias facetas de uma mesma pessoa.
(...) como seu nome revela, ela é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando na realidade não passa de um papel, no qual fala a psique coletiva. (JUNG,1985; p.32)
Quanto mais possibilidade de adaptação ao meio, maior sucesso terá o sujeito, ou seja, dispor deste arquétipo social com mutabilidade é a chave para o topo da saudável pirâmide da interação entre os humanos.
A pergunta que vem a seguir é: quem somos nós? Afinal se no processo de negociação diária somos obrigados a cedermos sempre, para o ganho posterior, qual é, afinal, nossa personalidade real? A resposta mais fácil é sempre a verdadeira: pode ser que isto não exista de fato!
O processo de individuação, proposto por C. G. Jung, não significa que estar “uno” consigo mesmo seja estar rígido com o mundo. Estar ciente das possibilidades e das dificuldades e, aceitar as possíveis mudanças ou encarar o que não pode ser alterado, com compreensão e sabedoria, é o segredo da vida.
Mudar é a única constante, constante na vida!
Pode tomar isto ao pé da letra, literalmente, e ainda acrescentar que aprender é outro verbo para viver. Aquele que só tem uma única máscara na vida está fadado ao sofrimento e desespero. Neste processo, já sabemos bem, surge o sintoma, a doença.
Podemos perder a conta das pessoas que se condenam por não acreditarem que uma mudança é possível. A angústia de ver o mundo não obedecer aos nossos desejos só pode ser apaziguada com uma ressignificação interna, outro olhar sobre o objeto que causa incômodo.
Toda importância que damos é nossa! Não do outro. O ouro não sente atração pelos humanos e o lixo não se incomoda com a nossa presença. Aquele que você odeia pode nem saber direito da sua existência. Será mesmo que você é tão importante assim no mundo para que “o outro” foque uma existência plena apenas no seu comportamento?
Quando percebemos que orgulho, razão e certeza podem dar lugar a empatia, compreensão e dúvida de nós mesmos, o mundo estará aos nossos pés, lugar onde sempre esteve. Somos humanos, dotados de uma capacidade ímpar de adaptação ao meio, por isto ainda estamos por aqui e tantas outras espécies desaparecem do planeta todos os dia, algumas, inclusive, por nossa incapacidade de lidar com o diverso.
Mudar é tentar. Fracasso ou sucesso é resultado desta tentativa. Olhar o ônibus passar e acreditar que o motorista sabe da nossa intenção de viajar e, por isso, nem ao menos tenta-se levantar o braço sinalizando o pedido de parada, é o mesmo que viver e deixar pessoas irem embora de nossa existência sem ao menos tentar sinalizar uma parada de reflexão conosco.
Vidas perdidas em solidão, raiva, ódio, angústia... faltando apenas palavras como: obrigado, por favor, perdão ou, a melhor expressão de todas: “- Eu te amo!” Palavras para acender a luz desta passagem, temporária e frágil, que todos nós estamos a percorrer. Uma viagem no tempo para cada um, mas só em uma direção e, com o final garantido, embora sem nenhuma garantia de tempo de duração.
Viver, portanto é ter mutabilidade, capacidade de trocar máscaras neste baile de personas.
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