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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O HOMEM QUE ATIRAVA GARRAFAS AO MAR



Por Beatriz Acampora – Psicóloga – CRP 05/32030

Em uma comunidade humilde um homem era especialista em confeccionar cerâmicas. Ele trabalhava bem o barro, dava formatos inusitados e levava ao forno com altas temperaturas para que se consolidasse e ficasse totalmente impermeável. Suas cerâmicas eram conhecidas nas redondezas, pois duravam muito e podiam ser lavadas ou ficar sob a água.

Este homem também gostava de passear em uma pirambeira que ficava a alguns quilômetros da comunidade onde morava. Lá ele apenas olhava para baixo e observava o movimento das ondas e o barulho que elas faziam. Sentia uma paz absoluta e tinha a certeza que se fechasse os olhos sentiria que o mar conversava com ele. 

Um dia, olhando a bela paisagem e de posse de um pote de cerâmica com tampa de rolha que havia feito para lhe servir de canteiro de água, teve a ideia de escrever algo e colocar dentro da garrafa para atirar ao mar. Pegou um pedaço de uma folha de bananeira que estava perto e escreveu uma frase singela. Esvaziou seu pote, colocou a rolha para selar bem e esperou as ondas recuarem para jogar o pote ao mar. 

Pensava que talvez, alguém, em algum lugar longe dali, poderia ler aquelas palavras. Se sentiu bem ao fazer isso e foi para casa para fazer mais potes que pudessem ser jogados ao mar. Ele era casado e tinha dois filhos. Sua família questionava o porquê de tanta empolgação em fazer os mesmos potes dia após dia. E ele explicou que se sentia bem ao jogar os potes ao mar com palavras que ele mesmo escrevia em folha de bananeira.

Em casa ninguém deu valor para o fato. Afinal, ele estava gastando material e tempo que deveriam ser usados para o sustento da família. Seus filhos o criticavam e o apelidaram de “atirador de potes”.  O homem não se intimidou e ao final de algum tempo havia feito 30 potes, escrito frases em folhas de bananeira e jogado ao mar. Esses foram os únicos 30 potes que ele fez e jogou ao mar.

Em sua paixão pelo oceano, o homem convidou sua família para passear de barco. E no meio do passeio o barco apresentou uma séria falha mecânica e afundou. Com exceção de seu filho mais velho, todos submergiram junto com a embarcação. Na tentativa de se salvar, o único sobrevivente se debatia, até que viu uma das garrafas que seu pai havia atirado ao mar boiando. Era uma garrafa pequena, mas ele se agarrou a ela com toda sua vontade de viver. Ficou algum tempo boiando e tendo a garrafa como seu guia, até que avistou uma ilha e com muito esforço nadou até ela. 

Logo que chegou à ilha, chorou muito a perda de sua família e, depois de muito se lamentar, olhando para a garrafa, pensou: “Essa garrafa salvou minha vida. O que será que tem dentro dela”? Abriu a garrafa e se deparou com um pedaço de folha de bananeira um pouco envelhecido, no qual estava escrito: “A felicidade deve ser vivida, mesmo que não possa ser compartilhada”.

E foi então, que ele entendeu que seu pai não era um “atirador de potes”, mas um semeador de palavras. Alguns desses potes, muito provavelmente, foram encontrados por pessoas que tiveram a oportunidade de degustar palavras e refletir sobre a vida. Outros, ainda devem estar boiando em algum lugar do oceano e, quem sabe, você ainda poderá ter a sorte de encontrar um deles.

Embora muitas palavras já estejam colocadas, é preciso resgatá-las no oceano da vida. Afinal, o turbilhão de informações dos tempos atuais, escondem muitas garrafas com seus valiosos ensinamentos. É preciso alinhar os sentidos para apreendê-las.

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