Por João Oliveira
- Você consegue ver algo no
horizonte?
- Vejo as pessoas ainda dormindo
como sempre.
- Isto é bom. Assim elas podem
continuar sonhando.
- O que é isso? Você não prefere
que elas morram sonhando?
- Sempre estiveram... que mal
existe nisso. A morte é apenas mais um momento de desligamento que se eterniza.
- Não! Prefiro que acordem e
percebam o que está ocorrendo.
- Elas jamais saberão o que está
ou, que esteve ocorrendo, se estão sonhando mesmo acordadas.
Dito
isto, a figura esguia se levantou em frente a um exército incontável de
soldados feitos de névoa. Como um supremo general se virou para a multidão
sinuosa e gritou:
- Vocês estão prontos para criar
novas possibilidades reais para essas unidades vivas feitas de carbono que
também se ousam chamar de seres humano?
O
silêncio foi o eco que retornou.
- Viu? Diante da possibilidade de
criar realidade dura e crua ninguém se move... agora, deixa eu ordenar de novo
e veja o que acontece.
Novamente
toma a frente a figura sinuosa e, por mais uma vez grita:
- Darei bons bocados de prazer na
existência prolongada para todo aquele soldado da criação que me trouxer, pelo
menos, um novo desejo que não possa ser realizado criado na mente dos chamados
humanos.
Ocorreu
uma reviravolta. Todos os soldados da criação (eles mesmos se denominavam assim
por serem capazes de provocar desejos e querências) se levantaram e começaram a
correr em direção aos que dormiam. Não houve batalha, foi tudo muito simples,
apenas sopravam nos ouvidos dos humanos e estes sorriam, mesmo em sono profundo.
- Viu, não lhe disse, está tudo
resolvido. São mais de sete bilhões de almas sonhadoras e desejosas de algo que
nunca alcançaram.
- Isto não e justo. Dominar
aqueles que nem sabem que estão em uma batalha não é mérito.
- Por que você fala assim comigo Realidade.
Justamente você que sempre se acha dono da verdade e é cheia de egocentrismos,
análises de situações, estratégias, tudo que leva ao desgaste e sofrimento.
- Por isto mesmo, Imaginação. Acredito
no momento presente, real, e nas decisões que podemos tomar diante das
dificuldades para elevar o nível de consciência.
- Agora é tarde. Este plano já me
pertence... todos estão felizes acreditando em muitas coisas ao mesmo tempo e
nunca produzindo algo que seja de fato material e duradouro. Não é divertido
observar como discutem sobre as performances de outros tão iguais como se
fossem diferentes em alguma coisa?
- Você me faz sentir mais orgulho
daqueles poucos que rompem a barreira do sonho e transformam desejos em fatos
concretos.
- Estes nem entram na minha
contabilidade, são pobres sofredores que se divertem menos que os demais.
- Sabe – disse a Realidade – você
até que é útil quando está unida a mim.
- Acredita mesmo nisso?
- Sim! Brigamos sem motivo...
afinal tudo que é real ocorreu primeiro na imaginação.
- Mas, você está misturando as
coisas: - Eu sou a Imaginação, o sonho, coisas que nunca serão alcançadas:
desejo!
- Sim, é fato, a grande maioria
está perdida apenas sonhando e desejando. Mas, alguns conseguem ir além e vivem
seus sonhos concretizados no mundo físico.
- Sinto muito. Só vejo o universo
que conquistei. Eles sorriem tão somente com o que vivenciam dentro de suas
cabeças.
- Que tal se no próximo plano uníssemos
forças?
- Bem que gostaria Realidade, mas
é justamente fugindo de você que eles caem em meus braços.
A Realidade
deu uma longa gargalhada.
- Você me faz rir... eles não
sabem quem você realmente é. Confundem ilusão com esperança. E fique você sabendo
que não sou ruim, apenas eles só despertam quando se dão conta da minha
existência em momentos de sofrimento: quando você finalmente falha.