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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A FALA MANTIDA




Por Prof. Msc. João Oliveira

               Certa vez estava diante de um grupo de religiosos que treinavam uma antiga arte marcial de defesa pessoal. Achando estranho que pessoas tão dedicadas à filosofia, arte e princípios éticos religiosos estarem envolvidas em algo aparentemente tão brutal, questionei o porquê deste procedimento. A resposta veio como uma revelação útil até hoje: - “É mais fácil manter a palavra que você pode defender!”

               No primeiro momento você pode entender que, se não concordar comigo eu irei te agredir até que aceite os meus pensamentos. Mas não é este o ponto em questão, é um pouco mais complexo.

               A vida nos coloca diante de situações que geram ansiedade quase durante todo o tempo de interações com outros seres humanos. Na rua, em grandes cidades, o medo de ser assaltado; no trabalho a preocupação de estar fazendo o certo para não ser chamado atenção pelo superior; em casa a ansiedade gerada pelo temor de, no futuro, não ser capaz de manter o mesmo padrão de vida.
               Estes medos constantes acabam gerando um programa interno de proteção que inibe o sujeito de expor seus verdadeiros sentimentos temendo represálias ou discordâncias. A verdade é que queremos ser aceitos o tempo todo. Este perfil comportamental transforma pessoas em meros seres passantes na natureza sem que deixem alguma contribuição para real mudança no mundo material.

               Nem todos são assim. Espero que você seja uma destas exceções e que sempre diga, com assertividade, o que se passa de fato em seu coração. Colocando para fora, seus pensamentos e emoções sem represar e, com isto, não ter as consequências lógicas de quem trava, no peito, tudo que sente sem expor.

               As artes marciais, ou defesa pessoal, podem ajudar a implantar um novo programa na estrutura mental da pessoa: sou capaz de me defender. Os treinamentos constantes, a prática esportiva e o convívio com um grupo acabam criando uma elevada autoestima. Ter a consciência, mesmo sem nunca necessitar usar, que é possível falar sem correr risco físico caso o outro tenha a agressividade como resposta, dá ao sujeito uma postura mais firme e a capacidade de colocar seus pensamentos e ideias mesmo em ambientes onde a adversidade impera.

               Acredito que a estrutura física, disposição e plena saúde, ajudem na estrutura básica para formação de uma mente mais ética e assertiva. Os exemplos positivos são inúmeros, principalmente quando a busca por uma atividade desta natureza se dá por pessoas que se sentem humilhadas ou em desvantagem em relação a opressores. Após conseguir uma consistência de sua capacidade de autodefesa as ameaças deixam de ser importantes. Raramente você encontrará algum praticante de arte marcial que seja violento. Normalmente são mais calmos e serenos que pessoas sem este perfil de atividade.

               Ter a certeza que o outro não poderá impor, por força ou intimidação, uma posição contrária a sua ética, moral ou filosofia permite uma existência mais tranquila e relaxada. O próprio modo de andar e se movimentar se altera. Caminhar sem medo, com menor índice de ansiedade pode prover uma qualidade de vida infinitamente melhor. A ocorrência de sintomas psicossomáticos diminui e o pensamento pode administrar melhor seus recursos cognitivos. Afinal, eles já liberaram o uso da vigilância permanente, do sistema límbico, das ameaças possíveis ou imaginárias.
              

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