Ana Elizabeth Diniz - Especial para O TEMPO
Entrevista com João Oliveira - Psicólogo comportamental
"Quem vê cara não vê coração" é um ditado muito usado para dizer que as pessoas podem camuflar suas reais intenções. Às vezes, isso significa que, por trás de um rosto angelical, pode haver uma intenção cruel. Mas, na maioria dos casos, o ditado não deve ser levado ao pé da letra. As expressões faciais e corporais, quando bem-interpretadas, podem nos ajudar a evitar as ciladas.
Quem fala com propriedade sobre o assunto é o psicólogo comportamental João Oliveira, que tem mestrado em cognição e linguagem e acaba de lançar o livro "Saiba Quem Está à Sua Frente", (WakEditora, 152 págs, R$ 30).
Ele conta que sua pesquisa nasceu da demanda dos alunos do curso de neurolinguística dos Institutos Superiores de Ensino (Isecensa), que sempre tinham novas perguntas sobre o assunto.
Tanta pesquisa e observação se traduziram em um manual de como viver bem entre humanos. O livro é de fácil leitura por sua forma didática e absolutamente simples na linguagem. A obra indica, passo a passo, através de ilustrações, como observar o surgimento de emoções nas faces e de que forma podemos fazer uma prévia e rápida avaliação de alguém, somente pelas rugas de expressão.
As dicas do livro permitem uma melhor observação do cotidiano e de conversas triviais e podem auxiliar qualquer pessoa que se atenha a explorar nuances do comportamento humano. Com muitas ilustrações e reunindo em um único exemplar técnicas criadas em ambientes diferentes, a publicação oferece parâmetros para nos relacionarmos melhor em família e profissionalmente.
O autor ressalta que todos nós temos uma expressão, mas cada vez menos pessoas a reconhecem. "Em todos os semestres, nossos alunos do sexto período de psicologia saem em campo mostrando desenhos e fotos de pessoas expressando várias emoções. Eles pedem para que as pessoas identifiquem ou contem uma história para explicar por que a pessoa demonstra esse ou aquele tipo de expressão na face. Em todos os ambientes, seja classe baixa ou alta, percebemos uma razoável diminuição da percepção da tristeza".
O psicólogo pontua que, na verdade, todas as emoções negativas estão perdendo espaço gradativamente. "Existe uma tendência de negar o nojo, o medo e a tristeza em nossa sociedade. Mascaramos ou apagamos a possibilidade de reconhecimento para evitarmos o sofrimento. E é claro que isso não funciona".
Quem fala com propriedade sobre o assunto é o psicólogo comportamental João Oliveira, que tem mestrado em cognição e linguagem e acaba de lançar o livro "Saiba Quem Está à Sua Frente", (WakEditora, 152 págs, R$ 30).
Ele conta que sua pesquisa nasceu da demanda dos alunos do curso de neurolinguística dos Institutos Superiores de Ensino (Isecensa), que sempre tinham novas perguntas sobre o assunto.
Tanta pesquisa e observação se traduziram em um manual de como viver bem entre humanos. O livro é de fácil leitura por sua forma didática e absolutamente simples na linguagem. A obra indica, passo a passo, através de ilustrações, como observar o surgimento de emoções nas faces e de que forma podemos fazer uma prévia e rápida avaliação de alguém, somente pelas rugas de expressão.
As dicas do livro permitem uma melhor observação do cotidiano e de conversas triviais e podem auxiliar qualquer pessoa que se atenha a explorar nuances do comportamento humano. Com muitas ilustrações e reunindo em um único exemplar técnicas criadas em ambientes diferentes, a publicação oferece parâmetros para nos relacionarmos melhor em família e profissionalmente.
O autor ressalta que todos nós temos uma expressão, mas cada vez menos pessoas a reconhecem. "Em todos os semestres, nossos alunos do sexto período de psicologia saem em campo mostrando desenhos e fotos de pessoas expressando várias emoções. Eles pedem para que as pessoas identifiquem ou contem uma história para explicar por que a pessoa demonstra esse ou aquele tipo de expressão na face. Em todos os ambientes, seja classe baixa ou alta, percebemos uma razoável diminuição da percepção da tristeza".
O psicólogo pontua que, na verdade, todas as emoções negativas estão perdendo espaço gradativamente. "Existe uma tendência de negar o nojo, o medo e a tristeza em nossa sociedade. Mascaramos ou apagamos a possibilidade de reconhecimento para evitarmos o sofrimento. E é claro que isso não funciona".
Minientrevista
Autor de "Saiba Quem Está à sua Frente", o psicólogo comportamental João Oliveira afirma que as emoções estão sempre estampadas no rosto. Basta saber vê-las.
Em que se baseia a análise comportamental pela observação das expressões faciais e corporais?
Desde que Charles Darwin, em 1872, publicou seu livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais", surgiram uma série de estudos sobre o vasto universo das emoções humanas e como elas se manifestam no corpo. Ele revela uma incrível coincidência entre diferentes culturas na forma de expressar as emoções básicas através do rosto. Darwin percebeu essa possível condição inata de comunicação facial. Vários são os povos antigos que tinham (e têm) incorporado, no seu dia a dia, práticas de análise comportamental. Os chineses davam preço nas mercadorias fitando as pupilas dos compradores; se elas dilatassem, o preço era maior! E as ciganas? Elas estão mesmo lendo as mãos? Por que então só olham no rosto? Ou seja, já temos essa condição de leitura inata, é só aprender a teoria e afinar o instrumento: o olhar.
Ao longo da vida, as pessoas vão mudando; suas feições também mudam?
Sim, e isso é muito bom, pois é através dessa mudança que podemos saber quem está à nossa frente. Essas marcas refletem as emoções vividas. Um músculo, quando muito usado, muda sua forma, fica desenhado o seu formato. Na face isso é mais visível. As emoções usam músculos para expor ao ambiente o que se passa no interior. Repetições dos mesmos estados psicológicos acabam por formar as rugas de expressão.
O rosto pode nos dizer o quê?
Podemos, por exemplo, saber que tipo de emoção está começando a se manifestar antes mesmo que a pessoa se dê conta disso. Aliás, somos péssimos em reconhecer nossas próprias emoções. O rosto fala antes, só revela a verdade, e o faz muito mais rápido do que podemos assimilar de modo consciente. O importante não é descobrir o que o outro está sentindo ou pensando, mas como agir diante dessa informação.
Como podemos nos beneficiar com esse conhecimento?
Aprendendo a lidar com os outros e conosco mesmo, auxiliando o outro numa comunicação melhor. Como? Propondo direcionamentos diferentes ao percebermos a expressão de uma emoção negativa que se difere da emoção instalada. As emoções rápidas podem ser diluídas, trabalhadas e modificadas antes que venham a compor o sujeito de forma consciente. Isso permite à mãe focar seu argumento com o filho desobediente sem conflito, ou a um policial colocar fim a uma situação antes que aconteça uma agressão, pois ele vê a expressão se formar no semblante do seu opositor e, na iminência de um confronto, ele pode optar por se afastar ou imobilizar rapidamente o sujeito à sua frente. O professor irá na carteira certa e dará um abraço naquele aluno que precisa naquele exato dia disso e – acredito mesmo nisso – estará impedindo a formação, possível, de um futuro agressor de massas.
Como seria a vida se pudéssemos ler a ação das pessoas apenas em sua expressão facial?
Imagine uma cidade onde todos andassem armados. Poucos cometeriam assaltos, pois saberiam que alguém poderia atirar nele. Agora, vejamos, uma cidade onde todos são capazes de "ver" a falsidade nos outros. Se todos tivessem a consciência de que é impossível falsear seus sentimentos porque o outro perceberia suas reais intenções, o que aconteceria? Como seria o comportamento social da maioria das pessoas em um ambiente como esse? Deixo a resposta para o leitor.(AED)
Desde que Charles Darwin, em 1872, publicou seu livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais", surgiram uma série de estudos sobre o vasto universo das emoções humanas e como elas se manifestam no corpo. Ele revela uma incrível coincidência entre diferentes culturas na forma de expressar as emoções básicas através do rosto. Darwin percebeu essa possível condição inata de comunicação facial. Vários são os povos antigos que tinham (e têm) incorporado, no seu dia a dia, práticas de análise comportamental. Os chineses davam preço nas mercadorias fitando as pupilas dos compradores; se elas dilatassem, o preço era maior! E as ciganas? Elas estão mesmo lendo as mãos? Por que então só olham no rosto? Ou seja, já temos essa condição de leitura inata, é só aprender a teoria e afinar o instrumento: o olhar.
Ao longo da vida, as pessoas vão mudando; suas feições também mudam?
Sim, e isso é muito bom, pois é através dessa mudança que podemos saber quem está à nossa frente. Essas marcas refletem as emoções vividas. Um músculo, quando muito usado, muda sua forma, fica desenhado o seu formato. Na face isso é mais visível. As emoções usam músculos para expor ao ambiente o que se passa no interior. Repetições dos mesmos estados psicológicos acabam por formar as rugas de expressão.
O rosto pode nos dizer o quê?
Podemos, por exemplo, saber que tipo de emoção está começando a se manifestar antes mesmo que a pessoa se dê conta disso. Aliás, somos péssimos em reconhecer nossas próprias emoções. O rosto fala antes, só revela a verdade, e o faz muito mais rápido do que podemos assimilar de modo consciente. O importante não é descobrir o que o outro está sentindo ou pensando, mas como agir diante dessa informação.
Como podemos nos beneficiar com esse conhecimento?
Aprendendo a lidar com os outros e conosco mesmo, auxiliando o outro numa comunicação melhor. Como? Propondo direcionamentos diferentes ao percebermos a expressão de uma emoção negativa que se difere da emoção instalada. As emoções rápidas podem ser diluídas, trabalhadas e modificadas antes que venham a compor o sujeito de forma consciente. Isso permite à mãe focar seu argumento com o filho desobediente sem conflito, ou a um policial colocar fim a uma situação antes que aconteça uma agressão, pois ele vê a expressão se formar no semblante do seu opositor e, na iminência de um confronto, ele pode optar por se afastar ou imobilizar rapidamente o sujeito à sua frente. O professor irá na carteira certa e dará um abraço naquele aluno que precisa naquele exato dia disso e – acredito mesmo nisso – estará impedindo a formação, possível, de um futuro agressor de massas.
Como seria a vida se pudéssemos ler a ação das pessoas apenas em sua expressão facial?
Imagine uma cidade onde todos andassem armados. Poucos cometeriam assaltos, pois saberiam que alguém poderia atirar nele. Agora, vejamos, uma cidade onde todos são capazes de "ver" a falsidade nos outros. Se todos tivessem a consciência de que é impossível falsear seus sentimentos porque o outro perceberia suas reais intenções, o que aconteceria? Como seria o comportamento social da maioria das pessoas em um ambiente como esse? Deixo a resposta para o leitor.(AED)
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