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sábado, 31 de dezembro de 2016

ERA SÓ ISSO 2016?



Por João Oliveira

Então você termina dessa forma? Se o que desejava era nos colocar em provação quero te dizer que passamos com êxito.

Veja bem, diante de todas as dificuldades colocadas por você na população brasileira (principalmente as de ordem financeira) estamos conseguindo ir adiante. Muitos ainda sofrem, isso é verdade, mas a chegada de um novo ano sempre renova a esperança e, como deve saber, não existe nada mais forte que a fé e a esperança.

Vendo por outro lado, você nos trouxe coisas boas também com a destruição de vários bandidos que se travestiam de políticos e roubavam a nação. Creio que ainda faltam muitos, mas, já é um bom começo. Nesse ponto 2016, você foi campeão.

Fico apenas pensando que, se fosse diferente, você não seria lembrado. Afinal, tenho certeza, que muitos irão se recordar de 2016 como o ano que pessoas morreram da mesma forma que outros irão ter seu número sempre lembrado como o ano que seus filhos nasceram. Cada um tem uma ótica pessoal sobre algum espaço temporal.

Não se sinta menor por isso. De fato, você foi apenas mais um ano na vida de muitas pessoas e O ANO na de outras.

Quero te contar um segredo, sei que para onde você vai não será possível espalhar essa pequena fofoca: você foi fantástico para mim!

Sim! Durante todos os 365 dias eu despertei pela manhã! Você me ofertou todas essas possibilidades me dando novas 8.760 horas para usar da forma como eu decidisse! Usei todas, não sobrou nenhuma: muito obrigado! Claro, devo ter dormindo quase um terço disso tudo, mas, nessas horas, com os olhos fechados, tive a oportunidade de sonhar em um universo onírico além da vida material.

Fechando nosso papo: era só isso 2016? Você não tinha outras pretensões? Que bom! Você preservou as pessoas que amo, estive produzindo, trabalhando e ajudando pessoas. Confesso que, quando você começou – lá em janeiro passado – tive receio de ter os dias contados e por isso me apressei em fazer tudo que desejava com a maior brevidade possível.

Olha que maldade: você vai e eu fico. Fico devendo, obrigado 2016. Vá descansar na eternidade das lembranças daqueles que puderam viver todos os seus dias.

sábado, 10 de dezembro de 2016

O HOMEM DAS BALAS




Por João Oliveira

Com o rompimento do aneurisma da aorta abdominal ela tinha agora apenas alguns pouco minutos de vida, a hemorragia de grande volume dissipava o brilho de uma vida inteira pouco a pouco. O médico já havia saído do quarto dando privacidade ao casal de idosos nesses derradeiros momentos. 


Ele segurava carinhosamente as mãos dela e não escondia as lágrimas silenciosas.


- Amor – Disse ela com voz calma e baixa – Me prometa que você vai mudar... antes eu me preocupava que houvesse apenas uma pessoa em seu enterro: eu! – Abaixou a cabeça e continuou - Agora, com a minha partida, temo que somente o coveiro esteja com você no cemitério.


- Que história é essa? Você está morrendo e se preocupa com a minha morte? Não faça isso...


- Amor... – disse ela com um pequeno sorriso triste nos lábios – Foram quase 60 anos juntos. Você não tem um único amigo até hoje. Essa profissão de cobrador de impostos tornou você uma pessoa amarga e mal vista. Prometa que vai ser agradável com as pessoas para que, no seu enterro, muitas pessoas possam estar presentes para se despedir de você.


O velho senhor percebeu que não restavam mais que alguns segundos. O olhar dela já demonstrava uma distância do mundo dos vivos. Só lhe restava uma opção:


- Claro amor, eu prometo! Prometo qualquer coisa para você ir em paz. Vou mudar meu jeito de ser e conquistar as pessoas...


Provavelmente ela não ouviu a conclusão dessa frase. Em seu enterro, centenas de pessoas estavam em volta do caixão. Como professora do ensino fundamental ela ajudou a formar a maior parte dos grandes homens dessa pequena cidade. Lá estavam todos no último adeus a querida professorinha do antigo curso primário.


Ele, por sua vez, resolveu de fato cumprir a promessa e depois de muito pensar elaborou uma estratégia: comprava pela manhã meio quilo de balas e doces e ia distribuindo com as pessoas que encontrava nas ruas sempre sorrindo. Todas as vezes que pensava em desistir se lembrava da promessa que havia feito a esposa no leito de morte e, mesmo triste, sorria para as pessoas e oferecia uma bala para adoçar o dia.


Assim fez durante todos os seus últimos cinco anos de vida. Tornou-se o cobrador de impostos mais simpático da cidade e, no dia do seu enterro o próprio prefeito proferiu um discurso diante de uma multidão assustadora. Naquele dia o prefeito prometeu ampliar o cemitério para que não ocorresse mais tumultos como aquele novamente.


No momento em que chega ao Céu ele encontra, na porta lhe esperando, sua esposa furiosa:


- Como é que pode isso? Eu fui professora, ensinei pessoas a minha vida toda. Eduquei grandes homens e no seu enterro tinha mais gente do que no meu? Como é que pode? Doces? Você estava é cultivando cárie na boca das pessoas! Você trapaceou!


- Que isso meu amor. – Responde ele de cabeça baixa – Fiz o que você pediu: conquistei as pessoas.


- Mas, desse jeito? Com doces? Sem realmente ajudar as pessoas positivamente?


- Amor... eu pensei muito e descobri que mais importante do que oferecer o que pessoas merecem é dar o que elas querem.


É certo que os dois se reconciliaram ali mesmo na Porta do Céu e estão até hoje desfrutando do Paraíso. Mas, essa pequena história nos diz algo sobre como nos relacionamos com as pessoas.


Muitas vezes, nos esforçamos em ofertar o que, em nossa opinião, as pessoas precisam e nos esquecemos de procurar saber se é o que elas desejam de verdade. Geralmente elas não querem coisas muito complexas. Em outras ocasiões é possível que elas nem ao menos saibam o que desejam. Por isso, é importante lembrar que o valor que aferimos as coisas é altamente pessoal e, muitas vezes, ou outros não possuem critérios de avaliação similares ao nosso. 


Antes de dar, esperando retribuição, procure constatar se isso que oferta com tanto carinho tem, de fato, algum valor para o outro.