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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O ÚLTIMO PRAZER




Por João Oliveira

                Um pensamento pode vir à cabeça de qualquer pessoa em algum momento: qual será o meu último prazer em vida?

                Claro que prazer é algo subjetivo e, para determinar qual será o último, ou os últimos, necessitamos ter uma ideia do que significa prazer para você hoje. Afinal, essas escolhas podem influenciar de modo crucial no resultado final do aspecto do prazer.

                Antes precisamos delinear o que seria prazer. Existe uma certa confusão entre felicidade, prazer e euforia. Podem parecer bem semelhantes mas, o resultado, no aspecto físico e que torna tudo diferente.

                Começando pelo básico: felicidade! Este momento agora, por exemplo, é um momento de felicidade. Não estou com dor de cabeça, não estou cansado, não sinto nenhum incomodo forte... felicidade é equanimidade: equilíbrio. O organismo está funcionando de forma normal, sem grandes alterações, e todo sistema psicológico se encontra em paz. Poderíamos dizer que felicidade é um estado de normatização dos sentidos e, em consequência, da estrutura física.

                Felicidade e sinônimo de paz. Neste estado o corpo funciona perfeitamente e todas as produções endócrinas (química interna) estão em harmonia. É o estado mais comum em nossas vidas, apenas não valorizamos estar bem.

                Prazer: estado em que o corpo produz certos hormônios e neurotransmissores numa forma de premiar o organismo com satisfação para que ele volte a ter um comportamento semelhante no futuro. Uma onda de completude invade o corpo graças aos efeitos da endorfina e serotonina, por exemplo, que fornece uma recompensa ao sujeito. Já a ocitocina, hormônio ligado a sexualidade e a lactação materna, gera uma sensação de proximidade e ligação afetiva. 

                No entanto, a euforia agrega adrenalina ao caldo químico emocional. Gerando aumento do batimento cardíaco, alteração da pressão arterial e um custo físico ao organismo que gasta muita energia neste processo. Pode-se alcançar este estado de diversas formas, a mais rápida e danosa é através do vício de certas substancias químicas que mimetizam os efeitos endócrinos deste perfil emocional de forma potencializada.

                A busca desenfreada pela euforia – que nada tem a ver com o estado de felicidade – acaba produzindo efeitos danosos ao corpo. Mesmo se fosse resultado de comportamentos naturais, sem uso de drogas, está forte emoção demonstraria sintomas negativos ao longo de um certo período de tempo. É possível que procurando acelerar o processo de aquisição da euforia, a deterioração da constituição física seja visível além dos efeitos secundários provocados pelas drogas em si.

                Assim, nos últimos momentos de vida o perfil de prazer pode ser totalmente individual e diferente para cada um de nós devido as nossas escolhas de vida no passado.

                Digamos que você tenha uma vida moderada e que prazer seja algo ameno e sem grandes rompantes emocionais, sem euforia, algo tranquilo e sereno como um final de tarde sentado à beira mar. Possivelmente este também será o mesmo perfil dos seus últimos dias na terra: sereno.

                Imagine agora alguém que preferiu investir sua existência na busca da euforia através de métodos variados. Seu último prazer pode ser um pouco de oxigênio provido por uma máquina de respiração artificial no leito de uma UTI. 

                Pensar no resultado que nossas escolhas no presente terão no futuro não é gerar ansiedade sem objeto. Trata-se de uma forma de esperar colher algo que plantamos da melhor forma possível. Ninguém é obrigado a ter o mesmo perfil de finalização mas, seria bem interessante saber o que lhe espera no futuro.

                Não há como reclamar se o resultado foi sempre parte dos seus planos.
               
               

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

IMAGINAÇÃO E REALIDADE





Por João Oliveira

- Você consegue ver algo no horizonte?

- Vejo as pessoas ainda dormindo como sempre.

- Isto é bom. Assim elas podem continuar sonhando.

- O que é isso? Você não prefere que elas morram sonhando?

- Sempre estiveram... que mal existe nisso. A morte é apenas mais um momento de desligamento que se eterniza.

- Não! Prefiro que acordem e percebam o que está ocorrendo.

- Elas jamais saberão o que está ou, que esteve ocorrendo, se estão sonhando mesmo acordadas.

                Dito isto, a figura esguia se levantou em frente a um exército incontável de soldados feitos de névoa. Como um supremo general se virou para a multidão sinuosa e gritou:

- Vocês estão prontos para criar novas possibilidades reais para essas unidades vivas feitas de carbono que também se ousam chamar de seres humano?

                O silêncio foi o eco que retornou.

- Viu? Diante da possibilidade de criar realidade dura e crua ninguém se move... agora, deixa eu ordenar de novo e veja o que acontece.

                Novamente toma a frente a figura sinuosa e, por mais uma vez grita:

- Darei bons bocados de prazer na existência prolongada para todo aquele soldado da criação que me trouxer, pelo menos, um novo desejo que não possa ser realizado criado na mente dos chamados humanos.

                Ocorreu uma reviravolta. Todos os soldados da criação (eles mesmos se denominavam assim por serem capazes de provocar desejos e querências) se levantaram e começaram a correr em direção aos que dormiam. Não houve batalha, foi tudo muito simples, apenas sopravam nos ouvidos dos humanos e estes sorriam, mesmo em sono profundo. 

- Viu, não lhe disse, está tudo resolvido. São mais de sete bilhões de almas sonhadoras e desejosas de algo que nunca alcançaram.

- Isto não e justo. Dominar aqueles que nem sabem que estão em uma batalha não é mérito.

- Por que você fala assim comigo Realidade. Justamente você que sempre se acha dono da verdade e é cheia de egocentrismos, análises de situações, estratégias, tudo que leva ao desgaste e sofrimento.

- Por isto mesmo, Imaginação. Acredito no momento presente, real, e nas decisões que podemos tomar diante das dificuldades para elevar o nível de consciência.

- Agora é tarde. Este plano já me pertence... todos estão felizes acreditando em muitas coisas ao mesmo tempo e nunca produzindo algo que seja de fato material e duradouro. Não é divertido observar como discutem sobre as performances de outros tão iguais como se fossem diferentes em alguma coisa?

- Você me faz sentir mais orgulho daqueles poucos que rompem a barreira do sonho e transformam desejos em fatos concretos.

- Estes nem entram na minha contabilidade, são pobres sofredores que se divertem menos que os demais.

- Sabe – disse a Realidade – você até que é útil quando está unida a mim.

- Acredita mesmo nisso?

- Sim! Brigamos sem motivo... afinal tudo que é real ocorreu primeiro na imaginação.

- Mas, você está misturando as coisas: - Eu sou a Imaginação, o sonho, coisas que nunca serão alcançadas: desejo!

- Sim, é fato, a grande maioria está perdida apenas sonhando e desejando. Mas, alguns conseguem ir além e vivem seus sonhos concretizados no mundo físico.

- Sinto muito. Só vejo o universo que conquistei. Eles sorriem tão somente com o que vivenciam dentro de suas cabeças.

- Que tal se no próximo plano uníssemos forças?

- Bem que gostaria Realidade, mas é justamente fugindo de você que eles caem em meus braços.

A Realidade deu uma longa gargalhada.

- Você me faz rir... eles não sabem quem você realmente é. Confundem ilusão com esperança. E fique você sabendo que não sou ruim, apenas eles só despertam quando se dão conta da minha existência em momentos de sofrimento: quando você finalmente falha.

A JOIA DA VERDADE





Por João Oliveira

                O Sultão andava de um lado para o outro na torre de observação sempre mirando a linha do horizonte no deserto. O mercador que estava trazendo a Joia Da Verdade já demorava cinco dias além do prazo estipulado. Não era medo de perder o valor pago que o deixava assim, era a ansiedade por ter as perguntas respondidas.

                A Joia da Verdade sempre responde três perguntas ao seu novo dono, depois disto ela se silencia para sempre para esta pessoa. O dono, que já teve suas perguntas respondidas, pode então vender a joia mas, não sem antes, fazer um elaborado ritual de entrega.

                Ocorre que a joia deve ser embrulhada na primeira noite do Ramadã e entregue ao novo dono antes que este período de jejum se encerre. Assim, o novo dono, terá de abrir a caixa da joia na primeira noite de lua cheia após o ramadã e, que com as duas mãos segurando a joia sob o luar à meia noite, proferir as perguntas.

                Agora uma caravana surgia ao longe. O Sultão Abhir Kabar Uslan sorriu pela primeira vez em muitos dias. Seu nervosismo tinha lugar, pois hoje será a primeira noite de lua cheia e, caso não pudesse abrir a joia nesta noite, deveria esperar por mais um ano para obter suas respostas.

                Uma grande festa se deu no palácio, a ansiedade pelo momento certo estava tornando cada segundo quase insuportável. Já com a caixa nas mãos o Sultão subiu até a mais alta torre de seu palácio e, sob o luar perfeito abriu a caixa.

                A joia estava acomodada em um pequeno travesseiro de cor vermelha o que aumentava seu brilho alaranjado. Ele, com muita cautela, ergueu com as duas mãos a pedra acima da cabeça e gritou:

- Quando irei morrer?

                O que ocorreu em seguida só sabemos por se tratar de uma história contada muitas vezes entre os povos árabes, pois ninguém que estava ao lado do Sultão realmente ouviu algo. A voz sensual de uma mulher ecoou apenas dentro da cabeça daquele homem e as palavras lhe disseram:

- Todos os dias, um pouco- E ficou em silêncio.

                A resposta não era exatamente o que o Sultão esperava e após ficar alguns segundos pensativo fez a segunda pergunta.

- Como posso ser ainda mais rico?

                Quase imediatamente a voz soou dentro de sua cabeça como um trovão.

- Valorizando as coisas que não possuem preço.

                O Sultão abaixou os braços e olhando a joia entendeu que tudo de mais precioso nunca lhe custou uma única moeda. Pensou em seus filhos, nas suas esposas, em suas refeições, nos amigos queridos... isso demorou alguns minutos até que ele levantou novamente a joia para fazer a pergunta final.

- Me diga ó joia da sabedoria universal. Qual o segredo de maior valor que devo saber para viver melhor, sem aborrecimentos ou ressentimentos, entre os seres humanos! O que devo saber, joia misericordiosa, para ser feliz todos os dias na minha vida!

                O silêncio se fez na cabeça do Sultão. Alguns instantes apenas que lhe fizeram se sentir abandonado por completo. Enfim, a joia respondeu:

- Não espere nada de ninguém. Ouça a todos sem contestar. Jamais responda uma pergunta que não foi feita e sempre prefira o silêncio às palavras não pensadas.

                Dito isto a joia perdeu sua cor e se emudeceu por completo. Ficou branca e só tornará a ter cor diante de um novo proprietário sedento por suas sábias respostas.

                Tenho certeza que você gostaria de ser o novo proprietário desta joia. Acredite, você já a possui, se chama consciência. Todas as respostas estão aí dentro de você, apenas ouça. Para isto é necessário que você faça silêncio e perceba essa voz que ecoa no seu ser.