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quinta-feira, 19 de março de 2015

Tirando uma vida






Por João Oliveira

Era primeira noite de lua nova, por isso a fogueira estava maior e iluminava até o alto das árvores que circundavam a aldeia. Todos os homens estavam sentados em volta e mantinham o homem branco amarrado pelos pés e mãos. Esperavam a presença do pajé para decidir o que fazer com ele. Afinal, ele tinha descoberto o maior de todos os segredos deles.

O pajé sai da tenda exibindo seu manto colorido, ele era tido por todos como muito poderoso porque era albino, não tinha pigmentação na pele, por isso destacava sua presença no manto da noite. Sentou-se em frente ao grupo:

- Ele viu em funcionamento? – perguntou altivo.

- Sim! Quando estávamos levando peixes para Tikal.

O pajé se voltou para o homem que estava amarrado e perguntou:

- Diga-me homem branco, o que viu?

- Nada...

- Então não viu uma grande tigela de ouro vibrando com um homem dentro a guiando sobre as pedras em direção a Tikal?

- Bom, falando assim... é vi sim.

- O que pensou sobre isso?

- Muito ouro para servir apenas de meio de transporte. Para isso temos carroças e cavalos.

O pajé olhos para os lados e voltou a questionar.

- Temos cavalos aqui?

- É verdade – falou o prisioneiro – Na verdade nem roda ou carroças eu vi. Só muito ouro mesmo.

- Sabe que não podemos deixar você ir embora com essa informação. Outros, como você, viriam roubar nosso ouro.

- E o que pretende fazer comigo? Vai me matar?

- Não! – disse o pajé – vamos tirar essa vida!

Dito isso começou uma grande cantoria na aldeia, mulheres vieram com jarros cheios de um suco feito de ervas e cipós da selva. Os homens agarraram o prisioneiro e o fizeram beber grande quantidade de tal liquido. Tonto, embebedado pela fórmula selvagem, ele caiu em sono profundo.

- E agora pajé, o que fazemos? – Um jovem que nunca havia presenciado tal ritual perguntou assustado.

- Amanhã ele será um de nós! Essa vida que vocês viram hoje jamais voltará a existir. Ele acordará sem memória. Digam que caiu de uma árvore e bateu com a cabeça, não saberá nada a respeito dele mesmo ou de toda sua história de vida. Caberá a nós ensiná-lo como ser um membro de nossa comunidade. Ele será querido e amado por todos nessa nova vida que se iniciará amanhã ao nascer do sol. Que seja bem vindo mais um novo filho do sol!

E assim aconteceu. Pela manhã o homem branco estava imerso na mais completa amnésia. O líquido havia deletado todas as informações de seu cérebro. Mal conseguia falar e, todos da tribo, dedicaram muito tempo a ele com amor e carinho. Por ser branco ele poderia em algum tempo futuro se tornar (quem sabe?) o novo pajé da tribo.

Ocorre que nossas vidas nada mais são do que resultado de nossas memórias. Todas as vezes que temos de tomar alguma decisão, por menor que seja, o cérebro faz uma rápida busca nas experiências passadas para poder tomar a melhor decisão possível no momento. Caso tenhamos um pacote de resultados negativos ou traumáticos em eventos similares, é possível que exista alguma reação emocional de afastamento em uma nova experiência.

Agora vem o detalhe importante: o cérebro não faz muita distinção entre fatos verdadeiramente ocorridos e os que podemos simplesmente criar em nossa imaginação. Após uma experiência vivida o fato vira memória, mesmo lugar onde estará um cenário criado pela imaginação. Assim, se sua mente estiver cheia de construções positivas serão essas as referências que sua mente terá para auxiliar na tomada de novas decisões.

Escolha muito bem o conteúdo que vive em sua cabeça. Tornar hábito ressignificar fatos ruins do passado é mais salutar do que viver relembrando derrotas. Pare de falar dos problemas isso irá consolidar em sua estrutura mental um padrão negativista. Seja feliz antes na sua imaginação que isso irá se propagar, acredite, pelo ambiente real.


sábado, 14 de março de 2015

O SALTO PARA A MORTE



Por João Oliveira

                Sei que se recordam que deixamos o nosso protagonista a ponto de saltar do precipício quando descobriu que o pai dele era um mago que se fazia passar por rei. Voltamos ao ponto em que os dois discutem o motivo pelo qual o pai (rei/mago) havia criado todas as ilusões em sua vida (príncipe/plebeu). Caso não esteja entendendo essa narrativa é porque está tudo certo, continue.

                Fala o filho enquanto balança o corpo bem próximo a beirada da montanha: - “Pai! Não posso viver com isso. Porque me criastes dentro de uma ilusão? Por me ocultas-te a existência da pobreza e dificuldades do mundo?”

                O pai, simples comerciante de secos e molhados na cidade de Ur, mas poderoso mago na manipulação da realidade, disse sem levantar a cabeça: - “Porque eu te amo filho. Foi por amor que te criei dentro de uma ilusão.”

                Volta a voz do rapaz a ecoar no abismo: - “Amor? Que tipo de amor é esse que coloca um véu sobre a realidade e oculta o que de importante existe na vida?”

                O pai, que (não se esqueça disso) fingia ser rei explica: - “Filho, não há nada que se possa aprender com a pobreza e o sofrimento. Eu te poupei dessas coisas porque eu mesmo sofri muito na minha vida. Sabe filho, os pais sempre querem o melhor para os filhos. Criei tudo ao seu redor com minha magia para evitar o seu contato com o sofrimento dos homens para que você pudesse se desenvolver mais feliz e pudesse ser um homem sem nenhuma mágoa ou angústia em seu coração. Fiz isso porque te amo.”

                Quase soltando o corpo no ar, o jovem olha triste para o pai e pergunta: - “Pai, e porque não me permitiu estudar outras religiões, outros conhecimentos ou mesmo viajar?”

                A fala retorna ao pai: - “Porque te amo filho, já disse. Veja, o conflito que pode ser gerado na cabeça de alguém com muita informação é horrível. Pessoas ficam confusas diante de opções. Eu simplifiquei tudo para você te apresentando a religião que conhecia, transferindo o meu conhecimento do comércio e te mantendo seguro aqui, onde eu posso lhe dar toda proteção. Viajar é perigoso, as estradas possuem ladrões, curvas perigosas e mares revoltos. Fiz para te proteger, porque te amo filho.”

                O rapaz, olha para o pai com enorme tristeza estampada na face e diz: - “Por causa disso não sei o que é falso ou real. Não estou preparado para viver nesse mundo cheio de opções e diferenças. Vou me jogar neste precipício!”

                O pai vendo que o filho estava realmente decidido a pular do penhasco faz uma magia e a morte se apresenta diante do antigo príncipe: - “Busca-me senhor? Aqui estou, abraça-me e vamos para o meu silencioso mundo sem escolhas.”

                Sabe, a morte tem cheiro. Exala calor. A morte possui uma voz grave, um pouco gutural. Faz surgir em nós sentimentos e emoções que só teremos diante da própria e, nesse exato momento (mesmo sabendo que era fruto da magia do pai), o rapaz ressignifica suas questões internas e diz: - “Pai, acho que posso viver com isso.”

                O pai finalmente se levanta e fala sorridente: - “Que bom meu filho! Então a partir de agora você também se torna um mago como eu. E, de magia e realidade, vivemos em um mundo imperfeito onde ninguém tem certeza de estar totalmente certo ou absolutamente errado.”

                E continua sua fala: - “Eu errei querendo acertar. Ao te proteger demais criei a fraqueza em você. Agora, tenho o dever de desvelar tudo quanto puder do mundo.”

                O jovem, já voltando em direção ao pai fala e tom baixo: - “Sinto muito, seu tempo de mestre já se foi. Acabou a aula pai. Bem ou mal formado é meu dever desbravar a realidade que está sob o sol. Obrigado por reconhecer seu erro, mas nossas vidas seguem rumos diferentes agora.”

                Dito isso, o nosso protagonista pega uma pequena mochila e caminha para fora da cidade de Ur. Aos poucos ele desaparece no horizonte sem ao menos saber o que existe após as montanhas.

                Esse texto é uma rudimentar adaptação de outro mais longo cujo o verdadeiro autor se tornou desconhecido com o passar dos séculos. Trata de algo simples e fácil de entender: não devemos dar o que nos faltou e, nem obstruir o que não entendemos.

                Os filhos e as pessoas que estão sob a nossa guarda e proteção possuem destinos próprios que serão construídos pelos seus erros e acertos. Querer direcionar um futuro mais adequado baseado em nossa própria história de vida é o mesmo que amarrar asas de um pássaro e depois querer que ele consiga voar.


                Tente olhar para si mesmo e descobrir quais são as coisas que subtrai da vida das pessoas e o quanto de sua magia está usando para construir outra realidade. Pode ser que isso seja a âncora que aprisiona navios cheios de cargas que podem mudar o mundo.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Máscara de seda



 Por João Oliveira
               
                Administrar as emoções é algo que demanda muita atenção e paciência consigo mesmo. Somente aqueles que conseguem se tornar mestres na observação de si mesmo podem se orgulhar de saber o momento certo de mudar o rumo dos atos comportamentais, justamente por perceberem uma emoção perigosa em curso.

                É possível, caso queira, se transformar em uma pessoa que entende o próprio processo emocional. Primeiro responda sim ou não aos seis questionamentos abaixo:

1)   Já perdeu o controle emocional alguma vez em sua vida? 
 
2)   Para você é impossível sair de uma discussão que sabe que está perdendo?

3)     Nunca sorri para as pessoas que realmente não gosta?

4)    Já chorou, publicamente, porque as pessoas não lhe trataram com o devido respeito?

5)     Já agiu de forma violenta por ter sido contrariado seriamente?

6)     Já perdeu oportunidades na vida por não conseguir se controlar emocionalmente?

Parabéns se todas as respostas foram “não” você consegue manter o autocontrole em momentos críticos da sua vida. Caso tenha respondido afirmativamente até três perguntas, você deve se esforçar mais para chegar ao autogerenciamento, pois já conhece o caminho. Mas, se você respondeu “sim” para todas as questões colocadas, preste bastante atenção neste pequeno texto.

Um treinamento de análise comportamental é sempre bem-vindo para se aprimorar a capacidade de interpretar as emoções das outras pessoas. Se isso não é possível, siga algumas dicas que podem ser úteis no seu dia a dia.

1 – Respiração sempre que necessário. Quando perceber que está ficando alterado, inspire profundamente, prenda a respiração contando até quatro e, expire da forma mais lenta possível. Isso poderá ajudar a manter o controle emocional.

2 – Postura antes do contato. Quando estiver próximo a ter contato com pessoas que podem alterar o seu estado emocional faça antes, por dois minutos, algumas posturas que podem alterar o seu estado de ânimo: pose do super-homem, pose do general (mãos unidas nas costas) e mãos colocadas unidas atrás da cabeça. Isso dará resultado, acredite.

3 – Olhar atento. Sempre busque pistas na face das pessoas do estado emocional reinante. A postura do corpo, posição da cabeça em relação ao tronco, tudo isso pode lhe dar informações de como sua conversa está indo e, caso você perceba algo errado, pode mudar a linha de abordagem antes de um colapso comunicacional.


Claro que esse texto não pretende resolver a questão de uma só vez. Serve mais como um alerta para as pessoas que querem melhorar seus relacionamentos. Tentar dominar as emoções sem ao menos prestar atenção nelas é o mesmo que ir a uma festa de fantasias usando uma máscara de seda: todos irão saber quem você é realmente.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

A PORTA




Por João Oliveira

                Não há nenhum bom resultado que se consiga sem esforço ou, pelo menos, alguma estratégia. Sorte é algo que só existe para poucos preparados e não podemos contar com ela quando o assunto é a nossa própria vida. Assim sendo, organização e planejamento são as ferramentas básicas de quem deseja construir o próprio futuro.

                Nada é fácil até estar totalmente pronto. Mesmo as coisas mais simples como, por exemplo, abrir uma porta para entrar ou sair de um ambiente depende de uma série de ingredientes para poder dar certo.

                A porta precisa estar alinhada com seu batente para poder abrir sem problemas, ter as dobradiças lubrificadas, maçaneta funcional e, não menos importante, você necessita ter a chave para abrir a fechadura e liberar o movimento. Claro, alguém antes teve muito trabalho ao colocar a porta nessa parede então, para que tudo ocorresse bem, houve planejamento.

                Projetar o próprio destino requer, no mínimo, compreensão das próprias capacidades e vontade de superar as deficiências. Identificar quais são as partes em você que podem dificultar o processo e focar no resultado final como elemento motivacional. Isso dará energia para levantar cedo, capacidade para estudar mais, investir até mesmo parte do tempo que seria destinado ao lazer, compreender as possíveis falhas no percurso e muito mais. Desde que esteja realmente focado nos resultados.

                Muitas são as pessoas que fazem uma comparação entre o esforço que fazem para conquistar algo, como um alpinista que escala uma montanha. Até certo ponto esta analogia funciona: dificuldades da escalada, paredões íngremes, dormir ao relento...

                Até que o resultado é alcançado no momento em que o alpinista chega ao topo da montanha. Nessa ocasião ele começa a descer. Aqui acaba a possiblidade de comparação com a sua jornada pessoal. Pois, ao alcançar o seu objetivo – seja ele qual for – você poderá desfrutar pelo resto de sua vida ou continuar em crescimento contínuo. Não terá de voltar para a base como o escalador de montanhas.

                O ponto principal para que essa argumentação dê certo só pode ser concretizado se, antes de mais nada, você tiver um objetivo claro em mente. Acredite, às vezes essa é a pior parte do projeto.

                - “O que você quer ser quando crescer?” Acredito que você já ouviu isso muitas vezes em sua infância. E essa aqui, mais apropriada para a vida adulta: - “O que o mundo fez com a sua vida?” E ainda: - “Quais são suas atitudes diante do que é colocado diante de você?”

                Calma! Antes de baixar a cabeça e começar a ficar triste com a(s) resposta(s) tenho uma última pergunta que pode mudar esse astral: - “O que você quer fazer com resto da sua existência?”

                Pense.

                Não importa o momento da vida em que se encontra ou os anos que já viveu. Conheço uma senhora com 85 anos que está cursando a Faculdade de Turismo. Tenho certeza que ela nunca irá ser uma profissional nesse ramo de atividade, no entanto, fazer esse curso a mantém viva a atuante no meio social.

                Pense mais um pouco.

                Um norte-americano têm, em média, cinco profissões ao longo da vida. O rapaz que era vendedor em uma loja vira frentista do posto de gasolina, estuda num curso técnico e vira eletricista, faz concurso e vai trabalhar no departamento de manutenção da prefeitura, estuda na universidade noturna e, após cinco anos, finalmente se gradua em engenharia. É assim que funciona!

                Agora projete seu futuro. Comece pensando na parede que vai ter de abrir para encaixar o batente, onde pode adquirir as dobradiças, parafusos, maçanetas... qual a madeira que vai usar e, finalmente, começar a montar a sua porta. Essa porta que irá abrir o caminho para o seu novo e pretendido futuro.

                Saia da imobilidade e abra, pelo menos, uma janela para o sol entrar em sua vida.
               
               
               



O VENTO



Por João Oliveira

Já se passaram alguns anos desde que o velho se mudou para esse lado longínquo da floresta, desde então as visitas dos filhos e amigos foram se tornando cada vez mais escassas e ele cada vez mais recluso. Saía de casa para conferir as armadilhas e ver se algum pequeno animal se tornaria a proteína do almoço ou dar longos passeios em meio as grandes árvores. Só havia um lugar onde ainda não tinha estado: a íngreme montanha.

Já lhe disse porque ele se refugiou na floresta? Não? Por medo de doenças e da morte.

Esse mesmo velho estava junto com John Snow em 1854 quando ele descobriu a origem do foco do cólera na Broad Street em Londres. Na verdade, ele fazia parte da igreja do reverendo Henry Whitehead ajudando a identificar as moradias das pessoas que haviam contraído o cólera. Assim, foi possível descobrir que a maioria das vítimas residiam próximo a uma bomba d’água pública. Com a retirada da alça da bomba, impedindo o acesso a água, o surto da doença acabou em poucos dias. Mais tarde descobriram que uma fossa estava contaminando o poço.

Nosso personagem nessa história era um forte defensor da teoria miasmática. Essa teoria afirmava que as doenças (peste negra, cólera e etc) eram transmitidas pelo ar viciado. Ninguém, naquela época, imaginava a possibilidade da existência de bactérias ou vírus. Não existia a teoria microbiana.

Dessa forma, com medo do ar das grandes cidades e das doenças mortais que ele podia conter, o velho acabou se refugiando na floresta onde o ar era puro e fresco.

Hoje ele decidiu, pela primeira vez, subir pela encosta da montanha. Pegou vários mantimentos e seguiu calmamente em direção a parte mais alta onde podia avistar o branco da neve. Enquanto subia pensava no quanto afortunado era de ter escolhido um lugar livre das terríveis doenças e como isso lhe garantia longos anos de vida.

Distante do vento poluído de Londres ele se sentia cada vez mais jovem e, por isso mesmo, se arriscava agora a escalar o trecho mais íngreme da rocha sólida. A dificuldade só aumentava, chegou a tal ponto que abandonou as mochilas para ficar mais leve e tornar o trajeto mesmo doloroso.

Em certo ponto, agarrado apenas pelas pontas dos dedos à parede quase lisa, pensou como seria a vida de uma montanha. Sempre estática observando o nascer e o desaparecimento das civilizações. Não era o maior ser vivo do mundo, este, com certeza (pensava ele) era o oceano.

Veio o desequilíbrio, queda e morte instantânea. Tombou de uma altura de 30 metros e, durante a queda, sentiu um pouco de liberdade.

Foi o vento! O mesmo que levava as doenças pelo ar. O velho se foi dessa vida levando a certeza absoluta que era ele (o vento) responsável por carregar a morte certa nas cidades poluídas do século XIX.

A lufada de ar prosseguiu o seu caminho logo após tombar o homem balançando as árvores que deixavam frutos maduros caírem ao chão. Esses frutos alimentaram animais, serviram de adubo para outras plantas e, das sementes germinaram novas árvores frutíferas. O vento também balançou o berço da criança, a rede do idoso e inflou as velas dos navegantes e pescadores.

O vento é tão mortal quanto qualquer outra coisa desse mundo e, como tudo, também é responsável por gerar vida. Até o veneno mais poderoso de uma pequena aranha está a serviço da vida. A morte, consequência da vida, irá tocar cada ser vivente em seu devido tempo. Mesmo os que se refugiam no meio da floresta ou se escondem nas profundezas abissais.

Depois de dar à volta ao mundo o vento soprou, gentilmente, um pedaço de pano branco que cobriu o rosto do velho.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

HIPNOSE É DOPING?


               
               
Por João Oliveira


No clássico de Heródoto Pheidippides, também conhecido como Fidípides, corre (no mínimo) 200 quilômetros indo e voltando entre Atenas, Esparta e Maratona em poucos dias. Por fim, para alertar aos Atenienses sobre a vitória da cidade de Maratona contra os Persas (eles estavam voltando com todas as forças restantes em direção aos Atenienses) ele percorre 42 mil metros correndo, chega cansado, dá o alerta da vitória e que os Persas estão chegando, morrendo em seguida ali mesmo. Graças a esse esforço os Atenienses conseguiram se organizar e vencer o inimigo nessa batalha que faz parte das Guerras Médicas. Hoje, em homenagem ao herói, temos a prova com os mesmos 42 quilômetros batizada com o nome da cidade. Será que tal capacidade teria sido alcançada graças a algum tipo de doping?

A primeira notícia oficial que se tem do uso de hipnose com a intenção de melhorar os resultados em competições esportivas ocorreu nos meados dos anos 50 entre os nadadores australianos.  Desde então a hipnose se difundiu no meio esportivo a tal ponto que o Comitê Olímpico Internacional inseriu, em sua longa definição de dopagem esse agente, embora, não deixe claro os meios que possam identificar sua utilização.

                A AMA, Agência Mundial Antidoping,  estabelece que doping é a utilização de substâncias ou métodos capazes de aumentar artificialmente o desempenho esportivo, sejam eles potencialmente prejudiciais à saúde do atleta ou a de seus adversários ou ainda contra o espírito do jogo. Quando duas dessas três condições se fazem presentes, caracteriza-se o doping.

Conhecido como intervenção psicológica para o aumento de performance, a hipnose, possui realmente eficácia em seu uso nos esportes pois: “- Essas estratégias de intervenção psicológica podem agir como recursos ergogênicos à medida que podem melhorar a performance do atleta”, explica Dr. Democh Junior, pós-graduando em Medicina (Endocrinologia Clínica) pela Universidade Federal de São Paulo, especialista em efeito do treinamento físico. Os procedimentos psicológicos não entram no contexto atual do doping com o mesmo destaque dos agentes químicos, simplesmente por não haver uma legislação específica e por ser uma área ainda de conceito incipiente.

São dois fatos que deixam a hipnose e a auto-hipnose fora do contexto do doping:

1)      A ausência de recursos para comprovação do seu uso.
2)      A hipnose não insere química no organismo: ela potencializa recursos próprios.

Dessa forma, se valer da hipnose pode ser um meio valioso para se alcançar metas de qualquer natureza dentro de uma perspectiva saudável. Conhecer os reais méritos dessa ferramenta fantástica pode fazer toda a diferença nas mais diversas áreas da atuação dos seres humanos. Afinal, a hipnose cria condições psicológicas para que nossa mente, órgãos e músculos possam efetuar suas funções com maior produtividade.

Agora, vamos ver possivelmente a mesma coisa só que por um outro ângulo.

Várias são as pessoas que possuem limitações impostas por traumas, recalques, muitas vezes, nem sabem que possuem tais estruturas limitando suas capacidades. A psicoterapia breve com hipnose clínica pode ressignificar esses valores de forma eficiente podendo liberar sujeito de todas as condições impeditivas de sua vida.

Assim, liberto das pressões internas que aprisionam suas potencialidades a pessoa pode agir com liberdade e maior capacidade obtendo, finalmente, resultados fantásticos – nunca antes alcançados – em qualquer atividade que atue.

Não se trata apenas de um comando hipnótico mas, de todo um processo onde a hipnose atua como ferramenta (e que poderosa ferramenta) de apoio a um tratamento global permitindo uma liberação de amarras. Dessa forma, o organismo passa de um sistema de defesa ultra ativado para um índice de equanimidade tornando o sujeito mais leve e capaz de ter uma ótima organização mental e física.
O ISEC, Instituto de Psicologia Ser e Crescer, está iniciando um novo curso de formação em Hipnose Clínica neste mês de abril na cidade do Rio de Janeiro. O curso, com 10 encontros mensais, sempre aos sábados, irá dotar os participantes das mais atualizadas informações de como agir, terapeuticamente, com a hipnose em consultório. O curso é direcionado para profissionais ou estudantes da área de saúde.

Todas as informações sobre este curso estão disponíveis no site: http://www.hipnose.com.br






quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Substância




Por João Oliveira

                Após uma tempestade de fortes raios, um homem encontrou uma árvore envolvida em uma estranha substância. Algo que se movia com o vento, brilhava e destruía tudo que tocava, transformando em cinzas. Parecia estar viva e se rebelando contra o ambiente.

                Era uma época diferente de hoje. As pessoas não tinham palavras e transmitir conhecimento não era algo fácil. Sem os signos linguísticos, os gestos e os urros eram as únicas coisas que possuíam para duplicar experiências.

                Assim, aquele homem ficou parado olhando a beleza da espetacular substância.

                Não demorou muito para perceber que ela aquecia nas noites, ajudava a tornar os alimentos mais saborosos e, com muito cuidado, podia ser transportada de um lugar para o outro quando se agarrava aos galhos secos.

                Justamente essa tornou-se a missão de sua vida: manter aquela essência ativa. Todas às vezes que ela parecia estar se dissipando, ele soprava com a boca, juntava pequenas folhas secas e o substrato voltava a dançar no ar rebelde como sempre.

                Dia após dia pessoas vinham de longe buscar um pouco dessa maravilhosa substância da qual ele se tornou mantenedor. Traziam alimentos em troca de poder impregnar pedaços de madeiras com aquele brilho vivo e voltarem para suas cavernas felizes e satisfeitos. Nem todos tinham o mesmo cuidado em manter a atividade constante da substância e, quase sempre, as mesmas pessoas voltavam para pedir mais um pouco.

                Dessa forma, o cotidiano do nosso personagem se tornou repleto de visitas constantes e aquilo era o seu único modo de viver. Isso durou muito tempo mas, um dia, uma chuva torrencial destruiu completamente qualquer vestígio daquela estranha matéria. Ela simplesmente havia desaparecido junto com as águas que caíram do céu.

                Atordoado o homem soprou como pôde em galhos secos. Juntou tantas folhas que fez um enorme monte no meio da floresta. Nada disso trouxe o calor da substância de volta.

                Em um momento de fúria, já quase anoitecendo, ele atirou uma pedra com força no chão. A pedra se chocou com outra que estava no solo e, nesse momento, ele pôde ver uma pequena fração da substância surgir bailando no ar. Algo diminuto que ele sabia ser o início de uma nova possibilidade.

                Passou o resto da noite batendo nas pedras até que descobriu um tipo perfeito que, com maior facilidade, fazia aparecer as partículas da substância no ar. Fez o mesmo movimento próximo as folhas secas e, com a ajuda de seu sopro, surgiu o esplendor daquilo que buscava.

                Agora era o detentor e podia distribuir a magia onde quer que fosse, pois era capaz de transformar a matéria. Suas pedras, suas faíscas faziam surgir o fogo. 

                Muitas vezes nos apegamos a algo (trabalho, pessoas, lugares) como se fosse o motivo de nossa existência, apenas por acreditar que tal estrutura só existe por conta de nossa devoção. Isto é falso. Lembre-se que quando algo se apagar, podemos fazer surgir chamas de pequenas faíscas e construir um novo fogo dentro de nós.