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sábado, 18 de junho de 2016

A LOJA DOS ELEMENTOS HUMANOS




Por João Oliveira

- Boa tarde meu senhor, tudo bem? Veja só, minha esposa mandou uma lista de elementos humanos para eu comprar. Será que o senhor tem dessas coisas aqui para vender?

- Sim, claro! É justamente o que mais vendemos aqui em nossa humilde loja, em que posso lhe ser útil, meu senhor?

- Bom, primeiro ela pediu que eu comprasse um pouco de opinião. O senhor tem?

- Claro! Vendemos isso demais por aqui. Olha, antigamente eu vendia opinião a dúzia, agora, com essas novidades de redes sociais, Facebook, Instagram e etc, eu vendo somente sacos fechados com cem opiniões cada.

- Ela não disse aqui quantas eu deveria levar...

- Pela minha experiência, deixe-me pensar um pouco, duas pessoas, hoje é sábado.... Pode levar quatro saquinhos de cem que vai dar para uma semana inteira e isso é só porque não estamos em período eleitoral ainda.

- Obrigado. E razão? O senhor tem razão por aí com um bom preço?

- Sim, qual dos dois tipos o senhor vai querer levar?

- Como assim?  Dois tipos?

- Tem a genérica, com base na opinião dos outros e a fundamentalista, que só se apoia no próprio pensamento.

- Qual a mais barata?

- Claro que é a genérica. Temos uma promoção: a cada dois pacotes de cem opiniões o senhor ganha um cheio com cinquenta novas razões.

- Excelente. Então, para completar o enredo coloca mais dois pacotes de cem razões fundamentalistas cada um aí para mim, fazer o favor.

- Claro, senhor. E o senhor vai querer mais alguma coisa? Mais algum elemento humano aqui de nossa pequena lojinha? 

- Olha, ela escreveu uma coisa aqui, mas, a letra está meio complicada. Acho que só ela mesmo para entender essa letra.

- Deixa eu ver. Pera aí... Claro: prepotência. Por isso o senhor não entendia, só ela mesmo para entender o que escreveu.

- Mas o senhor leu com muita facilidade.

- Porque eu sou uma pessoa preparada entende? Como eu existem poucos no mundo. Um momento que vou ver aqui... tenho somente uma unidade, mas, não tenho como lhe vender de jeito nenhum. 

- Por que?

- É de uso pessoal. Somente pessoas especiais, assim como eu, podem usar tal elemento humano.

- E autoestima? Isso o senhor pode vender, não é? Está muito cara?

- Alta ou baixa?

- Ih... tem de dois tipos? Eu não sabia disso. Me desculpe senhor. Eu sou tão ignorante para certas coisas.

- Então o senhor precisa levar a de alta. Fique tranquilo que não tem erro, sua esposa vai ficar satisfeita com sua escolha.

- Hum... ela pediu inteligência também.

- Ah... tenho aqui sim. Afinal: todo mundo tem inteligência. Nem consideremos no comércio como um produto que se vende no varejo. Mas, só um momento, não sei onde guardei a minha. Bom, ninguém usa isso mesmo. Tem tempo que não vejo a minha aqui no balcão. Estranho né? Todo mundo possui inteligência e não usa. Justamente por isso, pensa que não tem e quer comprar a dos outros.

- Humildade o senhor tem?

- Claro que não. Nem sei que produto é esse.

- Remorso?

- Isso depende. É para católico ou protestante?

- Só tem mais um item aqui que ela pediu.

- O senhor me desculpe, mas eu nem perguntei: é para entregar em casa?

- Sim, mas nem tudo. Algumas coisas ela pediu para eu já sair usando daqui.

- Uma dessas coisas seria a coragem?

- Isso mesmo! O senhor sabe tudo mesmo.

- Estou nesse ramo há muito tempo. Algo mais que freguês vai querer?

- Sim, vergonha, isso é muito importante, ela até grifou no papel em vermelho. O senhor tem?

- Tenho, mas acabou! Foi logo assim quando começou esse negócio de delação premiada.

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