Endereços:

Instagram: @prospero.universo @dr.joao.oliveira.oficial Web: joaooliveira.com.br

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

ATOS, AUTOS e ALTO-FALANTES


Por João Oliveira – Psicólogo CRP 05/32031

            O momento em que vivemos cria situações contraditórias na sociedade que solicita mudanças no plano de voo, mas, não possui forças para virar o manche de comando e nem uma rota prevista com segurança. Assim, podemos perceber solicitações oriundas de todas as partes dos extratos sociais cantando uma mesma música, todavia, em tons bem diferentes.

            Um dos pontos interessantes é a questão da “igualdade” que não difere as ações governamentais da iniciativa privada transformando tudo em uma única forma de agir com igualdade: de direitos, deveres, responsabilidades, distribuição de recursos e etc.  De forma positiva na Lei 8080/90, que regulamenta o SUS, a palavra “Igualdade” só aparece uma única vez, no Artigo 7, que diz em seu inciso IV: “Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; ”. Já em nossa Constituição Federal ela está melhor colocada aparecendo 9 vezes.

            O real problema se encontra na falta da palavra “Equidade” que só aparece três vezes na Constituição em suas mais de 350 páginas e nenhuma na Lei 8080/90.

            Não se trata apenas de uma solução que pode surgir da divisão de recursos de forma igualitária, embora isso seja um direito de todos. Apenas como exercício mental, tomemos uma situação quase corriqueira. Quando se possui na gestão pública R$ 30.000,00 para dividir entre três comunidades com o mesmo número de moradores (por exemplo), o primeiro pensamento do gestor, pressionado pelas lideranças comunitárias, é direcionar R$ 10.000,00 para cada uma delas. Afinal, os direitos são iguais!

            No entanto, uma delas atende a uma demanda altíssima de migrantes que aumenta a cada ano, a segunda é fincada no meio de um bairro industrial e todos trabalham; e a terceira está muito bem e possui recursos de sobra vindo do artesanato local. Sendo assim a divisão pode ser outra: a primeira ficaria com R$ 25.000,00; a segunda com R$ 3.000,00 e a terceira, que pouco precisa desse dinheiro, receberia R$ 2.000,00.

            Esse é o detalhe distante em absolutamente quase tudo que envolve o dilema recursos públicos em nosso pais: falta equidade. A popular “Lei do Gerson”, imortalizada nos comercias de cigarro da década de 70 diz que: “-Todo brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo? ” – Ainda impera no inconsciente coletivo acima de todas as normas existentes e, claro, toca os gestores do sistema. Do outro lado da corda está a população e, ninguém quer abrir mão de algo que é seu por direito, mas, que de fato, pode não ser tão relevante e essencial como seria para outro.

   Ao contrário, o excesso, visto como lucro no final do ano sendo resultado de uma boa administração governamental não é a vocação natural do estado. As receitas devem ser sempre direcionadas para um novo investimento social visando maior produtividade da nação.

             O direito do outro é igual ao meu, mas, as necessidades podem ser diferentes. O sistema de governo, responsável pelos atos estratégicos, deve manter uma escuta ativa e tomar a iniciativa dos atos declaratórios. Esse é o ponto chave dessa questão e, por isso, se faz urgente uma nova reflexão a respeito do que é certo e, o que é necessário ser feito.

            Não é possível esperar novas normas serem elaboradas. Afinal, sabemos que todas as leis já nascem envelhecidas, pois, antes, é preciso existir uma demanda para depois a proposição ser pensada e percorrer todos os caminhos legais até sua publicação, o que prejudica a resolução dos fatos concretos.

            Torna-se urgente uma campanha para a reeducação de valores. A sociedade não pode suportar por mais tempo as manifestações vindas de todos os lados: do homem que fura a fila ao grupo que está impedindo o trânsito de bens de consumo queimando pneus nas rodovias; do sujeito que ultrapassa o sinal vermelho à greve que paralisa os serviços essenciais e, ainda, as marchas e mais marchas populares, sem dúvida relevantes, lindas nas fotos e que raramente resultam em mudanças no plano legal.

            O mundo muda, de fato, pelos autos e pouco pelos alto-falantes. Quem tem goteira em casa não consegue manter opinião durante tempestades e poucos são aqueles que sustentam posições fortes enquanto se preocupam com o almoço de amanhã. Da mesma forma que ensinar a pescar de nada vale para uma população distante de lagos e rios piscosos.

 A situação, portanto, é de caráter individual (busca por soluções possíveis para cada um); social (é uma responsabilidade de todos); e do sistema governamental (assumir uma gestão de moral e exemplos). O amanhã melhor, que pregamos aos nossos filhos, só será possível quando tirarmos a letra “S” da palavra CRISE. 
           

            

Nenhum comentário: