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sexta-feira, 22 de maio de 2015

ASAS PARA VOAR



Por João Oliveira


                Olhando para o precipício Thuka percebia o quanto era pequeno diante da imensidão. As montanhas, que rasgavam a linha do horizonte, pareciam caber na palma de sua mão estendida, mas, ele as conhecia bem. Algumas podiam custar semanas de caminhada para se chegar ao topo: eram muito altas.

                Para os pássaros isso não era lá grande coisa. As águias iam e voltavam do topo ao solo muitas vezes todos os dias. Quem dera ele poder ter asas para voar. Como tudo seria diferente se ele pudesse transpor as montanhas, negociar ao norte de Myanmar e voltar, ainda sob o sol do dia, com as valiosas peças de jade e comprar belas camisas de seda.

Atravessar a cordilheira de Rakhine voando era seu sonho maior. Talvez o único que tivesse algum sentido. Todos os mercadores teriam que se curvar aos seus pés graças a capacidade de ir e voltar em um único dia e retornando com os alforges cheios de pedras.

Um dia algo inesperado irrompeu a madrugada. Uma forte luz o despertou com uma presença dentro de sua tenda.

- Queres asas para voar? – Disse a voz de uma donzela que se escondia atrás da luminosidade que o cegava.

Thuka, em um misto de medo e euforia, apenas balançou a cabeça em um movimento que pode ter durado mais tempo que o normal.

- Em nome de Bahá'u'lláh te dou as asas com que tanto sonhas. Que elas sejam dignas de pertencer ao seu corpo.

Da mesma forma vertiginosa que chegou, a luz atravessou o teto deixando Thuka ainda perplexo com o ocorrido.

Não mais conseguiu dormir. Um gosto estranho na boca e uma terrível dor nas costas tornaram essa a mais longa das noites de sua vida. Pela manhã percebeu o milagre proporcionado por Bahá'u'lláh: suas asas haviam brotado e ele podia voar.

Tornou-se não o maior, mas o único mercador capaz de ofertar as melhores pedras e os menores preço de todo o mercado. O jade lhe transformara em um homem rico e poderoso.

No entanto, uma tristeza lhe corria a alma. Nenhuma de suas lindas e caras camisas de seda lhe serviam. As asas permitiam apenas que ele usasse dhotis de linho atravessados em seu largo tronco. Era feliz, mas não plenamente porque também não havia uma cadeira onde pudesse se sentar confortavelmente. Às vezes, pensava que ter asas era um castigo recebido por causa de sua ganância sem tamanho.

Na vida, todos nós podemos passar por momentos assim. Em todo ganho há uma perda, isso é fato. O equilíbrio vem da capacidade de entender isso e se adaptar as alterações da realidade. A interpretação pessoal pode criar infernos e paraísos e isso só depende de cada um.

Procurar ressignificar os eventos que surgem em nosso cotidiano, ganhando ou perdendo, é o que nos faz superiores aos animais, seres incapazes de reflexões profundas. Navegar pelas formas pensamentos, que materializam em nossa mente sofrimentos desnecessários, é o mesmo que ser um barco sem leme em uma tempestade noturna.

Seu leme é sua mente. Mantenha sempre a direção correta pois, como sabemos, é possível navegar mesmo contra o vento.



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